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Matéria 1745, publicada em 08/03/2006.


Acadêmicos dançam para se esquivar dos jambolões

Lucas Balduino

Já faz parte do campus. Está nas calçadas, nas salas de aula, nos corredores, nos bancos, no telhado do quiosque, na camisa dos estudantes, na sola dos calçados e nas árvores. O violeta, que parece estar se tornando a cor-símbolo do semestre, está colorindo o Ielusc e incomodando quem tem de transitar pelo pátio entre a cantina e o bloco C. Tamanha perturbação só não é maior do que a abundância da fruta — que facilmente pode ser encontrada ou esmagada — e o desconhecimento, que permite que a “Eugenia jambolana” , ou o popular jambolão, esteja sendo vista apenas como uma “mancha” no chão da instituição.

A fruta, de origem indiana, é muito abundante em países tropicais. Também conhecida como jambol, jalão, jambul ou jamelão, pode ser aproveitada na gastronomia e na medicina alternativa. Apesar de ser usada na produção de tortas e doces na Índia, saboreada pelo seu sabor adstringente, sua utilização não é tão difundida na culinária brasileira — não fossem as crianças, que brincam de comer o jalão para ver quem fica com a língua mais roxa. É na área terapêutica que a notoriedade da fruta supera a sua desagradável existência nas solas de sapatos ou nas irremovíveis manchas nas camisas. Benéfica no tratamento de diabetes, a semente de jambolão pode colaborar no desaparecimento de açúcar na urina e atuar na cura de úlceras diabéticas. A casca da árvore também pode ajudar a combater disenteria, hemorragia, leucorréia e queimaduras.

Então, desconhecedores da fruta dificilmente saberiam que José Bispo Clementino dos Santos , o maior intérprete de samba do século passado, e em particular das músicas de Lupicínio Rodrigues, teria seu apelido por causa de uma analogia feita à cor roxo-avermelhada do jambul. Jamelão, como ficou conhecido após a desastrosa inconveniência do gerente de uma gafieira que não sabia o seu nome, é o ícone de uma das maiores escolas de samba do Rio de Janeiro. São mais de 60 anos de dedicação à Estação Primeira de Mangueira (também uma árvore), tempo esse que lhe valeu o título de presidente de honra da escola, o cargo máximo, e lenda viva do carnaval carioca.

O jambolão, além de um incômodo obstáculo, uma simples cereja — como muitos costumam chamá-lo — ou fonte de sujeira, é uma fruta comestível, é uma terapia alternativa, é a história de um ícone da música brasileira. Apesar de todo esforço que as zeladoras têm, que é varrer o pátio três vezes por dia para livrar os alunos da inconfortável presença dessas frutas, sua utilidade deve ser mais importante que o aborrecimento causado nas pessoas por terem que ziguezaguear poucos metros para atravessar um pátio.

Contudo, caminhar perto das árvores, com camiseta branca, entre fevereiro e maio — época da frutificação da árvore — é desaconselhável. Apesar do desconhecimento de quem plantou os três jambeiros em local público, ninguém se responsabilizará pelos danos às vestimentas. Enquanto isso, a chuva de roxo continuará pintando o campus.

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Galeria: Veja as imagens das árvores do pátio do Ielusc


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