Já faz parte do campus. Está nas calçadas, nas salas de aula, nos corredores, nos bancos, no telhado do quiosque, na camisa dos estudantes, na sola dos calçados e nas árvores. O violeta, que parece estar se tornando a cor-símbolo do semestre, está colorindo o Ielusc e incomodando quem tem de transitar pelo pátio entre a cantina e o bloco C. Tamanha perturbação só não é maior do que a abundância da fruta — que facilmente pode ser encontrada ou esmagada — e o desconhecimento, que permite que a “Eugenia jambolana” , ou o popular jambolão, esteja sendo vista apenas como uma “mancha” no chão da instituição.
A fruta, de origem indiana, é muito abundante em países tropicais. Também conhecida como jambol, jalão, jambul ou jamelão, pode ser aproveitada na gastronomia e na medicina alternativa. Apesar de ser usada na produção de tortas e doces na Índia, saboreada pelo seu sabor adstringente, sua utilização não é tão difundida na culinária brasileira — não fossem as crianças, que brincam de comer o jalão para ver quem fica com a língua mais roxa. É na área terapêutica que a notoriedade da fruta supera a sua desagradável existência nas solas de sapatos ou nas irremovíveis manchas nas camisas. Benéfica no tratamento de diabetes, a semente de jambolão pode colaborar no desaparecimento de açúcar na urina e atuar na cura de úlceras diabéticas. A casca da árvore também pode ajudar a combater disenteria, hemorragia, leucorréia e queimaduras.
Então, desconhecedores da fruta dificilmente saberiam que José Bispo Clementino dos Santos , o maior intérprete de samba do século passado, e em particular das músicas de Lupicínio Rodrigues, teria seu apelido por causa de uma analogia feita à cor roxo-avermelhada do jambul. Jamelão, como ficou conhecido após a desastrosa inconveniência do gerente de uma gafieira que não sabia o seu nome, é o ícone de uma das maiores escolas de samba do Rio de Janeiro. São mais de 60 anos de dedicação à Estação Primeira de Mangueira (também uma árvore), tempo esse que lhe valeu o título de presidente de honra da escola, o cargo máximo, e lenda viva do carnaval carioca.
O jambolão, além de um incômodo obstáculo, uma simples cereja — como muitos costumam chamá-lo — ou fonte de sujeira, é uma fruta comestível, é uma terapia alternativa, é a história de um ícone da música brasileira. Apesar de todo esforço que as zeladoras têm, que é varrer o pátio três vezes por dia para livrar os alunos da inconfortável presença dessas frutas, sua utilidade deve ser mais importante que o aborrecimento causado nas pessoas por terem que ziguezaguear poucos metros para atravessar um pátio.
Contudo, caminhar perto das árvores, com camiseta branca, entre fevereiro e maio — época da frutificação da árvore — é desaconselhável. Apesar do desconhecimento de quem plantou os três jambeiros em local público, ninguém se responsabilizará pelos danos às vestimentas. Enquanto isso, a chuva de roxo continuará pintando o campus.
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Galeria: Veja as imagens das árvores do pátio do Ielusc