Cerca de cem manifestantes se reuniram na praça da Bandeira de Joinville, às 16 horas, no 1º Dia Nacional de Luta Pelo Passe Livre, 26 de outubro. Os manifestantes debateram propostas de ação direta nas ruas, decidindo intervir na sessão da Câmara de Vereadores. O trânsito da rua Dona Francisca foi bloqueado. A “tropa de choque cultural” como foi chamada, carregava escudos de papelão, apitos e uma caixa-clara, instrumento musical para embalar os gritos de guerra do MPL (Movimento Passe Livre Joinville).
Na entrada da câmara, vários policiais estavam na porta, barrando os manifestantes. “Ninguém pode entrar”, bradou o soldado Gelásio, da PM. Ele segurou o braço do estudante Flávio Solomon, 23 anos, e perguntou: “Quem é o líder?”. Solomon respondeu: “Este policial me perguntou quem é o líder. Somos um movimento coletivo formado pela população. Não temos líderes!”.
Dez minutos depois, o presidente da Câmara, Darci de Mattos (PFL), liberou a entrada e um PM sem identificação disse: “apenas se vocês não levarem os apitos e a caixa-clara”. O grupo subiu os nove andares pelas escadas, em silêncio. No plenário, os escudos de papelão foram virados, formando a palavra “Tribuna Livre!”. O MPL alegou que o direito a palavra havia sido negado para eles na semana passada, pois o movimento não possui registro em cartório.
Quatro membros tentaram negociar uma fala de cinco minutos. Depois de muita conversa, Darci de Mattos pegou o projeto de lei do passe livre, de autoria do vereador Adilson Mariano (PT), que não estava presente. A maioria dos vereadores achou “deselegante” a votação do projeto na ausência do autor.
Mattos considerou a sessão cancelada devido aos protestos da população. As ruas foram tomadas novamente. O contingente da PM dobrou. Eles acompanharam os manifestantes, que marcharam pelas ruas Dona Francisca, Princesa Isabel, do Príncipe e Nove de Março. Voltaram à praça da Bandeira e formaram uma ciranda ao redor do monumento de fundação de Joinville. “Não sou baderneiro! Só não quero que roubem meu dinheiro!”, era o grito.
O professor de sociologia, Lourival Schulter, apoiou os estudantes. “O movimento de vocês é válido. Não abaixem a cabeça para uma bancada de políticos que estão aí defendo o direito de meia dúzia de famílias”, bradou. Agora, com aproximadamente 150 pessoas, eles caminharam em passos lentos em volta do Terminal Central. A passagem dos usuários não foi impedida. Mais tarde, voltaram a se reunir nas entradas do terminal e coletaram assinaturas para o projeto de lei de iniciativa popular nº 05, que institui o passe livre estudantil. Para ser votado, o projeto precisa de 16 mil assinaturas. “Nós não acreditamos que as mudanças sociais aconteçam no parlamento. A mudança social só ocorrerá nas ruas!”, declarou Rani Rocha, estudante, 17 anos.
Depois de três horas, o grupo concluiu a manifestação fazendo outra ciranda na entrada do terminal. Solomon propôs uma reunião com os presentes, para o sábado (29), às 14 horas, na praça da Bandeira. Manifestações similares ocorreram em 14 cidades em nove estados do país, demarcando a nacionalização do MPL.
Manifestações pelo Passe Livre ocorreram em nove estados brasileiros
Quatorze cidades espalhadas por nove estados brasileiros participaram de manifestações conjuntas, no mesmo. Na maioria, catracas artesanais foram queimadas para simbolizar o objetivo do grupo: o fim da mercantilização do transporte coletivo. Esse é o objetivo do Movimento Passe Livre que instituiu o 26 de outubro como Dia Nacional de Luta pelo Passe Livre. Essa data foi escolhida pois é o mesmo dia em que a lei do passe livre foi à votação em Florianópolis e, em seguida, aprovada.
Multimídia
> Assista a um trecho do vídeo “A revolta das catracas”. Fpolis/ 2004
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