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Matéria 1376, publicada em 06/09/2005.


Mandando e-mails, cantando e seguindo a canção

Fabrício Porto

Dias difíceis passaram as gargantas daqueles 300 mil manifestantes que ficaram na Praça da Sé gritando pelas “diretas já” em 25 de janeiro de 1984. Dedos sujos de tinta verde e amarela ficaram, quando milhões de estudantes tentavam mostrar suas cidadanias com caras pintadas saindo às ruas pedindo o afastamento do presidente Collor em 1992. Da mesma forma, militantes virtuais gastam bytes e mais bytes para enviar seus protestos pela web em 2005.

A imagem de um cara barbudo com uma placa na mão escrita “Fora FMI”, ainda perambula pelas cabeças de muitos. Novos manifestantes contaminados por um instinto de cidadania computadorizada protestam pelas vielas da web, porém protegidos atrás de computadores e escondidos em seus trabalhos de oito horas diárias.

Outro dia recebi um e-mail com o seguinte grito-de-guerra: “Pendurem faixas pretas nas janelas de suas casas para mostrar nossa indignação perante o governo”. Pensei que o protesto meramente visual de pendurar uma faixa preta na frente da casa apenas denotará a passividade de pendurar a faixa na janela da casa e esperar que a casa saia pelas ruas protestando contra o governo.

A comunicação que parece estar cada vez mais rápida, cada vez mais concisa e cada vez mais isolada por meio da web, agora é ferramenta de manifestações populares, ou seriam apenas divagações supostamente socialistas de uma classe que faz cinco refeições por dia?

A Fundação Getúlio Vargas fez uma pesquisa recente mostrando que há cerca de 26 milhões de “incluídos digitais”. Já a Nielsen NetRatings destaca um número de 14 milhões de internautas no Brasil. Mesmo assim Ibope e Ratings apontam o percentual de usuários de 8 a 15% da população brasileira. O crescimento médio de internautas por mês é de 18,8%, mas também pode ser considerado um número ou uma estimativa.

Se pensarmos em internautas como aqueles que apenas utilizam os computadores ligados à internet, o número total se distancia do número de pessoas que têm computador ligado à rede em casa. Partindo desses dados percentuais conflituosos e de como poderíamos definir um internauta, não podemos também dimensionar o tamanho do movimento “internáutico” no Brasil.

Quantas redes, sites, portais, listas de discussão? Quantas pessoas? Quem são essas pessoas? Quanto tempo ficam conectados? A internet, por se diferenciar dos meios de comunicação usuais como jornais impressos, rádio e TV, promove um convite à interatividade e à produção de conhecimento. Mas que tipo de interação e conhecimento?

Um movimento civil que atende pelo nome de FAS (Frente AntiSpam) reivindica o direito dos cidadãos de não receberem qualquer tipo de mensagem eletrônica indesejável, inclusive manifestações populares. Esta organização defende a punição àqueles que mandarem spams pela rede. A terra de ninguém chamada internet está começando a conhecer limites que possibilitam manifestações virtuais contra qualquer coisa.

Luta armada, protestos e passeatas fizeram parte da história, assim como modens mais rápidos, linhas digitais fazem coisas que eram ditas utópicas anos atrás. Para cidadãos revolucionários de hoje, com o barateamento de computadores, programas e aplicativos, a internet parece estar popularizada entre os cidadãos. Mas de que cidadãos estamos falando, se somos todos iguais, conectados ou não?


Estudante do 6º semestre de Jornalismo no Bom Jesus/Ielusc

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.