Nada de sujeitos inflamados, nem argumentações ideológicas. Apenas uma
conversa na qual cada editor aguarda a vez. E quando falam, o fazem calmamente.
Apenas Roberto parece indignado com alguma coisa ou tudo. Fala num tom de
conspiração. A reunião preguiçosa continua entre goles de café. Domingos, um dos
editores executivos, de tempos em tempos sugere fontes e indica editores que
devem conversar com editores. Dá também algumas sugestões de fontes e de
maneiras de publicar. Os editores dizem o que têm para o dia e como pretendem
trabalhar a questão – fontes, e até espaços nas páginas. Domingos quer saber as
matérias que merecem manchete na capa. Apenas os editores de economia e de
política se manifestam – o de economia parece levar vantagem. Raquel deve ter
pronta uma matéria para ocupar uma certa página inteira caso os editais não a
ocupem. A manchete de capa acabou ficando, na verdade, com a editoria de
polícia.
Roberto, o editor indignado, reclama do prazo que tem para publicar suas
matérias, reclama do café, reclama do tempo, reclama da falta de tempo, e
reclama dos outros editores porque estes reclamam do trânsito. “Um tem um Audi,
outro tem uma pick-up 4x4. E eu, com a minha bicicleta! Burgueses nojentos, só
pensam neles”. Passo para outra ilha de edição. O estagiário disse escrever
bastante. Pergunto para qual caderno escrevia, e se eventualmente escrevia para
outros. Respondeu, num tom esnobe como quem se gaba: “Eventualmente não, cara.
Escrevo pro jornal, para várias editorias. Hoje, por exemplo, estou escrevendo
um texto para a editoria de Estado”.
Na editoria de fotografia, Pena Filho conta, ao mesmo tempo em que arquiva
imagens e recebe pedidos de mais fotos, sobre o dia-a-dia e a fotografia. Diz da
dificuldade e do prazer de fotografar - capturar a melhor imagem. Conta sobre um
pauta recente que recebeu sem entusiasmo e acabou fazendo a foto da capa. “O
fotógrafo sai com a pauta, que recebe às vezes pelo telefone, e tem que trazer a
imagem”, diz. E informa que quando chega descarrega a memória, faz uma
pré-seleção e coloca os principais dados sobre a imagem, como autor e local da
foto em uma ficha no Photoshop. Para Wagner Jorge, editor de fotografia, o
fotógrafo deve cumprir todas as pautas, a qualquer custo.“O argumento é trazer a
imagem, esse é o único argumento. Não tem mau tempo ou imprevisto que justifique
não trazer a imagem”. O editor conta que recentemente um foca teve que voltar
sete vezes para fazer a fotografia. E aconselhou: “O fotojornalista não deve ser
filho da pauta. Não pode fazer apenas o que lhe foi pedido. O bom profissional
está sempre atento. E muitas vezes a foto pauta o texto”.
Nas reuniões editoriais são decididas quais as matérias que levam ou não
imagens. “Normalmente 90% das matérias saem com foto”, diz Wagner Jorge. As
fotografias estão centralizadas em um banco de imagens em Joinville. Sobre a
responsabilidade do fotógrafo, Wagner dá um exemplo: “Certa vez, um sujeito
começou a ligar para o jornal por ter aparecido numa fotografia. A matéria
falava sobre os cartões de estacionamento. A imagem era de cartões e por um
acaso o sujeito aparece no fundo da foto. Ele acabou se conformando, e isso não
deu em nada, mas ocasionalmente casos parecidos com esse podem dar processo”.
Segundo o editor, o cidadão comum tem o direito de processar o jornal quando
entender que foi prejudicado pelo uso indevido de sua imagem. Mesmo imagens de
acusados de crimes não são publicadas enquanto não houver condenação – exceto em
casos de flagrante.
Há vários recursos para a utilizar imagens sem revelar a identidade das
pessoas, como por exemplo contra-luz, descaracterização eletrônica do rosto e
até o efeito dado pela velocidade baixa. Já no caso de figuras públicas como
políticos, a fotografia é lícita em qualquer circunstância, e dispensa
artifícios. Hoje, com equipamento digital, o editor disse que se cobra mais
criatividade e diversidade na apreensão e na apresentação das imagens.
“Espera-se maior ousadia do profissional”. Os recursos a serem utilizados devem
levar em consideração as circunstâncias e os temas de cada fotografia. O editor
aponta o fotojornalismo como a melhor escola de fotografia.