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Matéria 1311, publicada em 02/08/2005.


A fotografia no dia-a-dia da redação

Jessé Giotti

Nada de sujeitos inflamados, nem argumentações ideológicas. Apenas uma conversa na qual cada editor aguarda a vez. E quando falam, o fazem calmamente. Apenas Roberto parece indignado com alguma coisa ou tudo. Fala num tom de conspiração. A reunião preguiçosa continua entre goles de café. Domingos, um dos editores executivos, de tempos em tempos sugere fontes e indica editores que devem conversar com editores. Dá também algumas sugestões de fontes e de maneiras de publicar. Os editores dizem o que têm para o dia e como pretendem trabalhar a questão – fontes, e até espaços nas páginas. Domingos quer saber as matérias que merecem manchete na capa. Apenas os editores de economia e de política se manifestam – o de economia parece levar vantagem. Raquel deve ter pronta uma matéria para ocupar uma certa página inteira caso os editais não a ocupem. A manchete de capa acabou ficando, na verdade, com a editoria de polícia.

Roberto, o editor indignado, reclama do prazo que tem para publicar suas matérias, reclama do café, reclama do tempo, reclama da falta de tempo, e reclama dos outros editores porque estes reclamam do trânsito. “Um tem um Audi, outro tem uma pick-up 4x4. E eu, com a minha bicicleta! Burgueses nojentos, só pensam neles”. Passo para outra ilha de edição. O estagiário disse escrever bastante. Pergunto para qual caderno escrevia, e se eventualmente escrevia para outros. Respondeu, num tom esnobe como quem se gaba: “Eventualmente não, cara. Escrevo pro jornal, para várias editorias. Hoje, por exemplo, estou escrevendo um texto para a editoria de Estado”.

Na editoria de fotografia, Pena Filho conta, ao mesmo tempo em que arquiva imagens e recebe pedidos de mais fotos, sobre o dia-a-dia e a fotografia. Diz da dificuldade e do prazer de fotografar - capturar a melhor imagem. Conta sobre um pauta recente que recebeu sem entusiasmo e acabou fazendo a foto da capa. “O fotógrafo sai com a pauta, que recebe às vezes pelo telefone, e tem que trazer a imagem”, diz. E informa que quando chega descarrega a memória, faz uma pré-seleção e coloca os principais dados sobre a imagem, como autor e local da foto em uma ficha no Photoshop. Para Wagner Jorge, editor de fotografia, o fotógrafo deve cumprir todas as pautas, a qualquer custo.“O argumento é trazer a imagem, esse é o único argumento. Não tem mau tempo ou imprevisto que justifique não trazer a imagem”. O editor conta que recentemente um foca teve que voltar sete vezes para fazer a fotografia. E aconselhou: “O fotojornalista não deve ser filho da pauta. Não pode fazer apenas o que lhe foi pedido. O bom profissional está sempre atento. E muitas vezes a foto pauta o texto”.

Nas reuniões editoriais são decididas quais as matérias que levam ou não imagens. “Normalmente 90% das matérias saem com foto”, diz Wagner Jorge. As fotografias estão centralizadas em um banco de imagens em Joinville. Sobre a responsabilidade do fotógrafo, Wagner dá um exemplo: “Certa vez, um sujeito começou a ligar para o jornal por ter aparecido numa fotografia. A matéria falava sobre os cartões de estacionamento. A imagem era de cartões e por um acaso o sujeito aparece no fundo da foto. Ele acabou se conformando, e isso não deu em nada, mas ocasionalmente casos parecidos com esse podem dar processo”. Segundo o editor, o cidadão comum tem o direito de processar o jornal quando entender que foi prejudicado pelo uso indevido de sua imagem. Mesmo imagens de acusados de crimes não são publicadas enquanto não houver condenação – exceto em casos de flagrante.

Há vários recursos para a utilizar imagens sem revelar a identidade das pessoas, como por exemplo contra-luz, descaracterização eletrônica do rosto e até o efeito dado pela velocidade baixa. Já no caso de figuras públicas como políticos, a fotografia é lícita em qualquer circunstância, e dispensa artifícios. Hoje, com equipamento digital, o editor disse que se cobra mais criatividade e diversidade na apreensão e na apresentação das imagens. “Espera-se maior ousadia do profissional”. Os recursos a serem utilizados devem levar em consideração as circunstâncias e os temas de cada fotografia. O editor aponta o fotojornalismo como a melhor escola de fotografia.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.