A recepção do jornal A Notícia conferia certa seriedade ao local – pilares cinzas, balcão de mármore e uma mesa baixinha com as edições atuais acima. A secretária, formal e ocupada, liberou a entrada para um corredor com uma janela, deixando à vista uma sala cheia de computadores e funcionário que estavam vestidos de caipira. Eram homens e mulheres que, comendo os seus pés-de-moleque e pipocas, estavam em plena festa junina, às 15h30. Pulavam e gritavam e, quando se depararam conosco, visitantes, tornaram-se acanhados.
- Nossa, não esperávamos visitas hoje!
- Que vergonha...
Sorriram um riso amarelo – com dentes sujos, para imitar uma banguelice – e continuaram a celebração junina.
Corredor adentro, era só o que se via: funcionários muito alegres e com vestidos xadrezes ou ternos remendados. No teto, bandeirolas, balões e correntes de papel colorido.
Já na sala da redação, ninguém estava trajado festivamente, mas o ambiente era igualmente enfeitado. Muitos olhares eram despudoradamente dirigidos ao televisor ligado no jogo de futebol do Brasil contra a Alemanha, da seleção sub-20.
Em poucos minutos, os chefes de cada editoria reuniram-se na sala de reuniões, um ambiente com diversos mapas de Joinville e Santa Catarina, jornais concorrentes, uma planta desengonçada no canto e muitos avisos espalhados: “Mantenha a sala em ordem!”.
Postaram-se em torno de uma mesa arredondada. Nove ou dez editores requisitavam incessantemente um copinho de café da garrafinha térmica. Quando todos já estavam servidos de cafeína, o editor executivo pediu para que cada um falasse das notícias para o dia seguinte.
Foram expostas, sucintamente, as notícias de relevância e, enquanto um falava, os outros conversavam animadamente sobre qualquer outro assunto sem relação com a reunião. Uns conversavam em voz alta, outros baixinho, e houve quem optou por desenhar no bloco de anotações. A reunião durava meia hora e os editores tornavam-se ostensivamente cansados e entediados.
Para concluir, o editor executivo pergunta:
- E a capa? O que vamos manchetear?
Houve um alvoroço.
- Vamos dar uma olhada nas manchetes de ontem.
- Vamos colocar duas manchetes sobre esporte de um lado e três de economia do outro!
- E os destaques?
- Bom, será dois aqui, um ali.
- Não, um aqui e dois ali.
Remexeram-se nas cadeiras.
- Não, não, vamos fazer assim...
- E as fotos?
A discussão da manchete durou mais 15 minutos, atingiram um consenso e logo o alvoroço foi para levantarem-se e rumarem à sala da redação. De novo, os assuntos engraçados do cotidiano de cada um era tema, fizeram brincadeiras e voltaram aos seus computadores.
Era 16h10 e a sala estava repleta de rostos absortos na tela fosforescente do computador. O ruído dos teclados preenchia plenamente a sala e repórteres conversavam com funcionários do outro lado da sala – berravam, mas sem um tom hostil. De quando em quando uma explosão de risadas quebrava os diálogos um tanto tensos.
- Cara, eu preciso dessa foto para hoje!
- Mas eu já tenho a foto!
- Mas não serve!
E, no televisor ligado, a seleção brasileira de futebol duelava com a Alemanha. De repente, quase todos os presentes na sala vaiaram violentamente. Braços coléricos emergiam por entre as “ilhas” de computadores e fechavam forte o punho:
- O Brasil vai virar, Alemanha, pode esperar!
A Alemanha fizera um gol e, por aproximadamente cinco minutos, todos assistiam ao jogo e suplicavam pela reviravolta da seleção.
Um dos funcionários mais tranqüilos era Antonio Tomaz, estagiário, que está cursando o último ano de jornalismo no Bom Jesus/Ielusc. O rapaz redigia serenamente sua matéria e afirmou que logo estaria com o trabalho pronto, não se enrolara desta vez. Contou que houve vezes em que a editora o alertara porque sua matéria estava incompleta, com dados insuficientes. “Fico muito frustrado quando isso acontece”, disse, decepcionado, e logo afirmou que isto não acontecia com freqüência.
O editor de País e Mundo era um dos mais apressados para fechar as notícias do dia seguinte e do final de semana. A tela de seu computador era recheada de pequenas janelas e ícones, e contou que na maioria das vezes, usar as agências de notícias é um meio comum no jornal. Porém, freqüentemente, ele é obrigado a fazer correções e dar precisão às matérias. Enquanto explicava, por entre o barulho das mãos dedilhando furiosamente os teclados, uma voz grossa brame de repente, fugaz:
- Gol!
E a sala explodiu em gritos e rugidos de gol. Um editor saiu correndo e deu uma volta na sala, enlouquecido. Estouraram balões, comemorando. E de novo as atenções convergiram para a televisão, mostrando os jogadores brasileiros festejando.
Repórteres e fotógrafos entravam e saíam da sala, munidos de suas ferramentas para que uma matéria ou reportagem de qualidade fosse concebida. Telefones tilintavam, a televisão sussurrava a narração do jogo, repórteres negociavam com editores, editores negociavam com repórteres e a tensão estabeleceu-se, de leve. Os editores previram:
- Ah, isso aqui mais tarde vai estar uma loucura...
Já eram 17h45 e a visita chegava ao fim. Até às 21h, “muita água iria rolar”, diziam. Deixamos a redação e regressamos ao Ielusc, com as curiosidades saciadas.