Espero que estas linhas que ora escrevo o encontre desfrutando de bons
pensamentos, assim como a primeira coisa que tive ao entrar pela porta da sala
de reunião dos editores do jornal A Notícia. Porém, estava tão mais afoita do
que os editores em ritmo de decisão de fechamento de assuntos para a próxima
edição do jornal.
A expectativa era grande, e me senti mais nervosa do que eles. “Poxa, fiquei
impressionada com tamanha calma”, disse a mim mesma. Enquanto eu, principiante,
estava de olhos bem abertos, com atenção em dobro em cada palavra que ouvia, os
mais acostumados com a correria, os práticos editores (vou chamá-los assim),
conversavam entre si, mascavam chicletes, liam um jornal de circulação nacional
e só falavam a todos quando lhes solicitassem a palavra.
A primeira reunião que os editores têm acontece pela manhã, por volta das
11h. Repassado o conteúdo que será encaminhado aos repórteres, todos entram na
corrida em busca do material necessário para a próxima edição. Desta eu não
participei, mas deve ser de suma importância, pois também nesse horário,
Graziela J. Lindner expõe assuntos cotados com as sucursais e os correspondentes
no intuito de ter uma pauta prévia.
A segunda reunião serve para que cada editor informe que assuntos renderam
demanhã. Deveria acontecer sempre às 15h30, mas geralmente atrasa. “A reunião só
começa quando a Tina chega” disse, brincando o editor executivo Domingos Aquino.
Albertina Camilo, mais conhecida como Tina é editora do AN Cidade. Baixinha
agitada, faladeira, de conversa séria e mãe dos repórteres estagiários. Ela
levanta a cabeça, aceita a brincadeira numa boa, repassa sua pauta e volta a
abaixar a cabeça. Ela lia o jornal de circulação nacional e anotava algo em sua
folha.
Se fôssemos analisar cada perfil dos editores participantes da reunião,
escreveríamos boas histórias, com vários apelidos. Jeferson Saavedra que o diga.
Gostei de sentir a fluidez da conversa. Ele somente se referia ao seu
entrevistado, ao seu assunto, através dos apelidos, que por conta disso me fez
curiosa, agoniada e sorridente. Todos os experientes entendiam o que Jeferson
dissera, mas eu? Bom, eu pesquei alguma coisa sim. Afinal, o assunto tratado não
era tão misterioso e tinha lá suas deixas.
Assim fui à redação, após uma hora de conversas e decisões tomadas. São
16h35. A esta hora a redação costuma estar vazia. Repórteres estão na rua atrás
de suas pautas. Alguns realizam entrevistas por telefone, por e-mail, mas o
convencional ainda é bem presente no AN. São 16h50 e fico a conversar com Wagner
Jorge, editor de fotografia. Ele me passa todas as coordenadas do dia-a-dia da
editoria de foto. Enquanto falávamos da orientação dada aos repórteres
fotográficos, vários editores sentavam à frente do computador para selecionar as
fotos que optaram para entrar em suas editorias. A estrutura do jornal lhes
permite isso. Já faz alguns anos a redação é toda informatizada. Por conta disso
os Mac interligados em rede facilitam o trabalho de todos que montam a edição do
jornal.
O impressionante foi verificar a quantidade de mão-de-obra que o jornal ainda
tem baseado apenas na experiência, sem a formação acadêmica. Estando na academia
fica difícil ver por esse ângulo, mas é claro que para o dia-a-dia do mercado a
correria exige quem faz rápido, e fica complicado comparar o trabalho de um
experiente com o de um novato. Mas numa cidade em que já se encontra
profissionais qualificados academicamente há alguns anos, sinto a necessidade de
verificar que existe mais abertura aos recém-formados nas diversas áreas que
envolvem conhecimento ao qual o jornal usufrua. Pode ser utopia minha, mas
quando estamos na academia temos mais ansiedade e esperança do que aqueles que
já estão anos no mercado exercendo a mesma função.