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Matéria 1123, publicada em 04/05/2005.


Definição de preconceito envolve debate cultural

Daisy Trombetta

Chegar a uma única concepção sobre a palavra preconceito é mais complicado do que parece. Pode-se optar pelo que trazem os dicionários: conceito formado antecipadamente e sem fundamento razoável; opinião formada sem reflexão; modo de sentir ou de pensar arraigado no espírito de quase toda uma população, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos, etnias, raças ou crenças; superstição. Mas é preciso, ainda, levar em consideração o que afirmam os profissionais de outras áreas.

Uma psicóloga, um antropólogo e uma socióloga. O que há em comum entre eles é o fato de terem conceitos diferentes do que o senso comum diz em relação à palavra preconceito. Um atributo com o qual concordam é que ele está diretamente ligado à cultura de cada indivíduo, que reconhece no outro traços familiares ou não.

Para Márcia Amaral, professora de psicologia do Bom Jesus/Ielusc, racismo é apenas um dos tipos de preconceito, que estaria diretamente ligado a atitudes. “As ligações afetivas das experiências passam a pré-concepção do que é o objeto, é uma percepção distorcida, deformada do objeto ou indivíduo”, assinala.

Felipe Soares, professor de antropologia cultural da mesma instituição, é um pouco mais radical: “O preconceito é constitutivo de nossa cultura. Isso mesmo. Sem ele ela não existiria. Todos somos preconceituosos, acima de tudo. A cultura ocidental vive de conceitos, e todo conceito formado é uma forma de preconceito”. Na visão de Márcia o preconceito é cultural, pois a percepção passa pelos conceitos culturais e afetivos. E são essas experiências que permeiam a relação com o indivíduo.

Valdete Niehues, professora de sociologia também do Bom Jesus/Ielusc, vai ainda mais a fundo. “Pré-conceito é afirmar que já existe um conceito formado sobre alguma coisa. Se você analisa que existe um conceito sobre, significa dizer que alguém já formou esse conceito”, analisa. “O preconceito pode não existir quando você busca a raiz do conceito. Quem determina que o conceito formado é uma verdade? Na medida em que alguém determinou essa verdade já tinha um conceito formado. Pré-conceito é falar algo contra esse conceito”.

Márcia sustenta que o preconceito também está ligado a experiências passadas, relações afetivas e relação com o objeto presente. “O indivíduo tem alguma reação, ou reage de alguma maneira, frente a determinado objeto. O estranho, o não-familiar pode causar uma reação de retração”, ressalta a professora. “O fato de não ver no outro o que é ‘meu’ predispõe a nos afastar e assustar”.

Os conceitos, e sucessivamente pré-conceitos, que conhecemos estão diretamente ligados com a verdade. “O conceito que se elabora sobre um determinado tema parte de uma verdade. Mas como a verdade, o conceito não é definitivo. Com o tempo, são atribuídas outras verdades e se formam outros conceitos. Preconceito seria um conhecimento através do espontaneísmo, sem ter noção profunda da causa”, enfatiza Valdete.

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