Por ordem do Ministério da Saúde, quem ingeriu caldo de cana no período de 1º de fevereiro a 23 de março não poderá fazer doações de sangue até 90 dias após a última ingestão. Conforme a gerente técnica do Centro de Hematologia e Hematoterapia de Santa Catarina (Hemosc) em Joinville, Marilene Castro Royer, essa não é uma situação preocupante. As doações mantêm o ritmo e provavelmente alcançarão à média mensal de 1.800. “Considero um bom número”, avalia a gerente.
O sangue infectado pelo protozoário Trypanosoma, causador da doença de Chagas, apresenta anticorpos após um período de no máximo 60 dias. Esse espaço de tempo que um agente infeccioso leva para ser detectado é denominado de “janela imunológica”. No caso de não ser respeitado, pode provocar um resultado de falso negativo nos testes feitos pelo Hemosc. “Preferimos estender o prazo para 90 dias por segurança”, afirma Marilene. Dessa forma, quem tomou caldo de cana só fará doação após 23 de junho.
Uma só doação pode ajudar até quatro pessoas
O sangue coletado pelo Hemosc é dividido em quatro hemocomponentes cujas propriedades podem auxiliar até quatro pessoas. A coleta é fracionada em concentrado de hemácias, plaquetas, fator VIII e no plasma (parte líquida do sangue). O plasma e o concentrado de fator VIII duram pelo menos um ano quando armazenados nos bancos dos hemocentros. A parte líquida do sangue é utilizada em casos de cirurgias e hemorragias. Já o fator VIII, que é uma proteína importante e um dos fatores da coagulação sangüínea (propriedade de solidificação do sangue que permite a cicatrização de feridas, por exemplo), auxilia hemofílicos. A hemofilia é um distúrbio genético cujo tipo mais comum é justamente a ausência de produção desse hemocompenente.
As hemácias (ou glóbulos vermelhos) são indicadas para casos de anemia e hemorragias extremas. As plaquetas também têm grande importância na coagulação e são utilizadas por pacientes leucêmicos (leucemia é a denominação que se dá para diversos tipos de câncer originados nos tecidos que produzem o sangue). Os concentrados de hemácias e de plaquetas têm validade bastante curta: 42 dias para o primeiro e apenas cinco para o segundo.
Algumas faculdades de Joinville costumam fazer gincanas ou trotes solidários estimulando a doação de sangue. “Gincanas como essa são excelentes”, diz doutora Marilene, gerente técnica do hemocentro regional da cidade. Entretanto, ela faz uma ressalva: devido ao fato de o número de atendentes ser apenas sete e a capacidade de armazenamento do concentrado de plaquetas ser de cinco dias, as doações dessas gincanas deveriam ser dividas em etapas. Isso evitaria qualquer tipo de desperdício ou aglomeração. A doutora frisa, porém: “Qualquer doação será sempre bem vinda”.
Fazer doação não é como fazer coleta para exame
O doador do Hemosc passa por uma seqüência de cinco etapas até efetuar o ato de solidariedade. O primeiro passo é a identificação: não é possível fazer doação sem ter o documento de identidade. É preciso ter entre o18 e 65 anos de idade. Depois vem uma triagem para verificar se o peso, altura, pressão arterial e temperatura estão condizentes com os de um doador. O peso mínimo é 50 quilos. A terceira etapa consiste em uma entrevista individual para averiguar o passado clínico do doador. Só então se chega ao momento da coleta. São apenas 450 mililitros de sangue, os quais são repostos rapidamente pelo organismo. Passadas essas quatro fases, a recompensa é um lanche oferecido pelo Hemosc. A gerente Marilene Royer comenta o processo: “São necessários pelo menos 50 minutos, não é como coletar sangue para um exame”.
Retirado, o líquido vital segue para 11 tipos de testes e mais provas cruzadas. Na entrevista, o colaborador do hemocentro é questionado sobre doação de medula. Caso aceite, seus dados vão para o Registro de Doadores Voluntários de Medula (Renome). Estando lá, as características são comparadas com a dos pacientes da lista de espera para transplantes de medula. O objetivo é ver se há compatibilidade.
O Hemosc foi fundado em 1987 em Florianópolis e é uma unidade da Secretaria Estadual de Saúde. Desde1994 a entidade é gerenciada pela entidade privada sem fins lucrativos Fundação de Apoio ao Hemosc e Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas, órgão central do sistema de prevenção e assistência na área do câncer em Santa Catarina). Além de Florianópolis e Joinville, as cidades de Lages, Joaçaba, Criciúma e Chapecó contam com hemocentros. O Hemosc de Joinville atende a região norte do estado e fornece seus serviços até mesmo para cidades não muito próximas, como Canoinhas.