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Matéria 0984, publicada em 16/03/2005.


:Jessé Giotti

Leitura ajuda estudantes

Clube fornece literatura técnica para cegos

Amcle Lima

Não existe em Joinville gráfica que produza material em braile. Na região norte do estado de Santa Catarina a Associação Joinvilense para Integração do Deficiente Visual (Ajidevi) é a única instituição que ensina este tipo de linguagem. Percebendo a escassez de literatura didática que pudesse ser utilizada por cegos, o coordenador do setor de braile da Biblioteca Pública Municipal de Joinville, Osmar Pavesi, fundou o Clube de Ledores Voluntários em outubro de 2003. Neste clube, quem não enxerga tem acesso ao conteúdo dos livros pela leitura de outras pessoas. “Isso é novidade aqui na cidade, mas já existe há muito tempo no Rio de Janeiro e São Paulo”, comenta Pavesi, que também é deficiente visual.

Nádia Lidiane Otto, formada em Cinema e Vídeo pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), é uma das voluntárias. Para ela, prestar esse serviço é ao mesmo tempo prazeroso e interessante. “Já tive que ler coisas completamente fora de minhas leituras habituais, como práticas do ensino da eucaristia, por exemplo”, afirma. Conceição Fanarós também é voluntária do Clube de Ledores. Ela conta que um dos livros que mais a emocionou foi A ilha dos daltônicos, de Oliver Sacks. O texto foi lido para a acadêmica do Ielusc Maria José Ferreira Alves, a Zezé. A obra conta a viagem do autor a uma ilha do pacífico na qual a grande maioria das pessoas não enxerga cores.

Os encontros sempre são agendados previamente. Quando não é possível que o leitor e o ouvinte se encontrem, é feita a gravação de fitas K7 com o conteúdo dos textos. A maioria dos usuários é estudante. A literatura técnica, utilizada por universitários, geralmente necessita ser registrada em áudio para que possa ser ouvida inúmeras vezes pelos alunos. Segundo Osmar Pavesi, o clube possui um acervo de 361 obras gravadas em mais de 1.200 fitas. José de Alencar, Sidney Sheldon e Gabriel Garcia Márquez são alguns dos autores que constam nessa lista. Harry Potter não deixa por menos e também marca presença.

A Fundação Dorina Nowill, conforme Pavesi, é a única instituição que grava profissionalmente literatura em áudio no Brasil. Os registros são produzidos em estúdio, com dubladores, e já estão sendo feitos em CD. A mesma fundação também é a maior doadora de títulos em braile para a biblioteca de Joinville. O coordenador do Clube de Ledores, ressalta entretanto, que a maioria das gravações é feita de forma artesanal. “Em algumas fitas é possível ouvir o som ambiente como barulhos de carros na rua por exemplo”, afirma. Também é comum a troca de títulos com clubes de outras cidades. O Clube da Boa Leitura do Rio de Janeiro possui mais de 6 mil gravações.

Para as pessoas que não possuem a visão a melhor novidade vem pelas mãos da informática. O Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro trabalha desde 1993 no Projeto Dosvox, um software que transforma em som o conteúdo escrito na tela do computador. Dessa forma é possível ler emails, páginas da internet e outros textos sem utilizar os olhos.

Para ser um dos ledores basta ligar 422-7000, ramal 26 e inscrever-se no setor de braile da Biblioteca Pública. O clube conta com 25 voluntários ativos e é utilizado por 32 pessoas, em sua grande maioria estudantes. Osmar Pavesi considera o número pequeno. Ele diz que os professores deveriam incentivar mais a busca desses serviços na biblioteca. “Uma divulgação maior também ajudaria”, completa. Não há estatística sobre o número de cegos em Joinville. Segundo Pavesi, o último censo do IBGE aponta para um número maior que 160 mil cidadãos brasileiros sem nenhum grau de visão e mais de dois milhões de deficientes visuais.

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