Não existe em Joinville gráfica que produza material em braile. Na região norte do estado de Santa Catarina a Associação Joinvilense para Integração do Deficiente Visual (Ajidevi) é a única instituição que ensina este tipo de linguagem. Percebendo a escassez de literatura didática que pudesse ser utilizada por cegos, o coordenador do setor de braile da Biblioteca Pública Municipal de Joinville, Osmar Pavesi, fundou o Clube de Ledores Voluntários em outubro de 2003. Neste clube, quem não enxerga tem acesso ao conteúdo dos livros pela leitura de outras pessoas. “Isso é novidade aqui na cidade, mas já existe há muito tempo no Rio de Janeiro e São Paulo”, comenta Pavesi, que também é deficiente visual.
Nádia Lidiane Otto, formada em Cinema e Vídeo pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), é uma das voluntárias. Para ela, prestar esse serviço é ao mesmo tempo prazeroso e interessante. “Já tive que ler coisas completamente fora de minhas leituras habituais, como práticas do ensino da eucaristia, por exemplo”, afirma. Conceição Fanarós também é voluntária do Clube de Ledores. Ela conta que um dos livros que mais a emocionou foi A ilha dos daltônicos, de Oliver Sacks. O texto foi lido para a acadêmica do Ielusc Maria José Ferreira Alves, a Zezé. A obra conta a viagem do autor a uma ilha do pacífico na qual a grande maioria das pessoas não enxerga cores.
Os encontros sempre são agendados previamente. Quando não é possível que o leitor e o ouvinte se encontrem, é feita a gravação de fitas K7 com o conteúdo dos textos. A maioria dos usuários é estudante. A literatura técnica, utilizada por universitários, geralmente necessita ser registrada em áudio para que possa ser ouvida inúmeras vezes pelos alunos. Segundo Osmar Pavesi, o clube possui um acervo de 361 obras gravadas em mais de 1.200 fitas. José de Alencar, Sidney Sheldon e Gabriel Garcia Márquez são alguns dos autores que constam nessa lista. Harry Potter não deixa por menos e também marca presença.
A Fundação Dorina Nowill, conforme Pavesi, é a única instituição que grava profissionalmente literatura em áudio no Brasil. Os registros são produzidos em estúdio, com dubladores, e já estão sendo feitos em CD. A mesma fundação também é a maior doadora de títulos em braile para a biblioteca de Joinville. O coordenador do Clube de Ledores, ressalta entretanto, que a maioria das gravações é feita de forma artesanal. “Em algumas fitas é possível ouvir o som ambiente como barulhos de carros na rua por exemplo”, afirma. Também é comum a troca de títulos com clubes de outras cidades. O Clube da Boa Leitura do Rio de Janeiro possui mais de 6 mil gravações.
Para as pessoas que não possuem a visão a melhor novidade vem pelas mãos da informática. O Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro trabalha desde 1993 no Projeto Dosvox, um software que transforma em som o conteúdo escrito na tela do computador. Dessa forma é possível ler emails, páginas da internet e outros textos sem utilizar os olhos.
Para ser um dos ledores basta ligar 422-7000, ramal 26 e inscrever-se no setor de braile da Biblioteca Pública. O clube conta com 25 voluntários ativos e é utilizado por 32 pessoas, em sua grande maioria estudantes. Osmar Pavesi considera o número pequeno. Ele diz que os professores deveriam incentivar mais a busca desses serviços na biblioteca. “Uma divulgação maior também ajudaria”, completa. Não há estatística sobre o número de cegos em Joinville. Segundo Pavesi, o último censo do IBGE aponta para um número maior que 160 mil cidadãos brasileiros sem nenhum grau de visão e mais de dois milhões de deficientes visuais.