“O lábaro que ostentas estrelado
E diga o verde-louro desta flâmula.”
Flâmula? Ostentas? Lábaro? Essas palavras incompreendidas pela maior parte da população ajudam a compor o hino nacional brasileiro. Há pouco tempo era obrigatório. Todo o aluno do ensino fundamental e médio tinha que cantarolar o hino. Ficar em posição de sentido em frente à bandeira verde-amarela na semana da independência ou outras datas patrióticas.
A melodia mais conhecida no Brasil foi feita em 1831. A dupla Francisco Manuel da Silva e Joaquim Osório Duque Estrada, mesmo nunca tendo trabalhado junto compôs o hino nacional. Com a conquista do tri campeonato brasileiro na Copa do Mundo de 1970 por 4 a 1 contra a Itália, alguns brasileiros foram levados às ruas e a cantar o hino. O patriotismo estava em alta. Dessa forma, o patriotismo serviu como manobra política para o governo de Emílio Garrastazu Médici manter o regime militar. “Brasil: ame-o ou deixe-o”, era uma frase repetida na época àqueles que não concordavam com a ditadura.
Datas comemorativas como a Proclamação da República (15 de novembro) ou o Dia da Bandeira (19 de novembro) exaltam o patriotismo. Edson Burg, bolsista do Necom (Núcleo de Estudos em Comunicação), crê nas diferentes construções do significado da palavra patriotismo. Ele não acredita na união de um povo por intermédio de um hino ou através de símbolos nacionais. “Não há nenhuma razão para eu saber o hino”, argumenta Edson acrescentando: “É uma hipocrisia saber cantar o hino e não saber o que significa”. Para Edson, todos os hinos glorificam as guerras e as demarcações de fronteiras de um país e isso não define patriotismo.
“Com sangue, suor e com lágrimas”, ”verás que um filho teu não foge à luta” e “nem teme, quem te adora, a própria morte”. Essas frases foram ouvidas muitas vezes pela estudante de jornalismo Rosana Rosar. Além do Hino Nacional, os acordes dos hinos de Santa Catarina, de Joinville e da bandeira eram tocados por seu pai, Ozair José Rosar, saxofonista na banda do 62BI. Porém, mesmo rodeada de símbolos pátrios, Rosana desconhece a maioria deles.
Assim como Rosana, o fotógrafo Gabriel Machado não vê importância em saber cantar o hino brasileiro. No decorrer de sua vida acadêmica, Gabriel lembra as vezes em que participou com sua sala de uma sessão cívica. Em sua opinião, não existe mais o pensamento coletivo perante a pátria, apenas quando a seleção brasileira põe o pé nos gramados. Até hoje ele recorda os momentos maçantes que passou em frente à bandeira nacional sendo obrigado pela professora a tirar o boné e ficar em posição de sentido.
A professora e socióloga Valdete Niehues lembra do tempo de infância quando tinha que decorar o hino nacional na escola. Hoje também não concorda com a maneira como é tratado o tema. Considera este tipo de patriotismo uma forma de ufanismo, que significa aquele que adora e se orgulha de alguma coisa. A professora não acha estas ações patrióticas válidas, pois não levam a participação de todos para o bem da nação, e sim ao individualismo. Para ela, existe um desvio no que diz respeito à construção de uma pátria. A socióloga afirma que símbolos, hinos e brasões são mais respeitados do que os direitos e os interesses de um povo.