Revi Bom Jesus/Ielusc

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Matéria 0905, publicada em 12/11/2004.


:Joyce Reinert

Pé de Jambolão no Ielusc

O sabiá-laranjeira e o pé de jambolão

Fabrício Porto

\"Vou voltar para o meu lugar/ foi lá/

é ainda lá/ que eu hei de ouvir cantar

uma sabiá".

(Chico Buarque)

Não é à-toa que versos como os de Chico Buarque viraram melodias consagradas e o sabiá inspirou poetas, músicos e artistas plásticos. Esses versos ainda são lembrados por muitos, no entanto, em meio a carros, ruas e avenidas os versos cantarolados pelos sabiás-laranjeira são imperceptíveis aos ouvidos de muitos. Folhas deitadas sobre o chão construído por lajotas sextavadas de concreto pintam o cenário para que este pequeno animal possa viver em meio a prédios e carros. O varrer das folhas que caem dos três pés de jambolão localizados no centro do campus do Ielusc acompanha o cantar dos pássaros que ali vivem e fazem seus ninhos. O casamento perfeito entre o pé de jambolão e o sabiá-laranjeira vai além do habitat urbano. Os dois têm mais coisas em comum. Entre elas está a época da procriação dos sabiás e o tempo de frutificação da árvore, ambos no período de setembro a janeiro.

Um pássaro precisa de muito fôlego para prolongar seu canto por até dois minutos tendo como único objetivo estimular as fêmeas a fixarem sua moradia no espaço no qual estão inseridos. Esse canto acontece principalmente ao entardecer e ao amanhecer, porém é pouco notado por quem circula sob o pé de jambolão. Muito valente na época da procriação, o animal demarca uma área geográfica, não admitindo a presença de qualquer outra espécie de ave por perto.

Com o peito levemente puxando para o amarelo escuro e um canto inconfundível, o sabiá-laranjeira é conhecido também por sabiá peito-roxo, sabiá gongá, sabiá vermelho ou sabiá amarelo. Ele realiza seus vôos rasantes pelo pátio do Ielusc sem obter muita notabilidade entre aqueles que estão sempre apressados a fim de conquistar dinheiro, para conquistar conforto, para conquistar enfim paz e tranqüilidade. Mas esquecem a paz e tranqüilidade que os envolve todos os dias.

Buracos na parede, luminárias, montes de tijolos são os locais escolhidos a dedo pelas pequenas aves, que botam seus ovos tentando assim perpetuar a espécie em meio à urbanização. Essa espécie de ave tinha como habitat áreas florestais, principalmente localizadas no litoral do país. Com a degradação da Mata Atlântica e a construção de cidades, os pássaros se adaptaram às regiões urbanas. Por incrível que pareça, o processo de transformação favoreceu a multiplicação da espécie devido a sua melhor adaptação a locais com pouca vegetação.

O pássaro que já foi inspiração até para criação de selos que circularam no Brasil, no Uruguai e na Argentina e hoje é nomeado a ave-símbolo do Brasil, pode chegar a 30 anos de idade. Apesar de medir 25 centímetros de altura e possuir um canto como uma marca registrada, não desperta a curiosidade de quem circula pelo campus do Ielusc e nos poucos parques da cidade de Joinville. Enquanto isso, professores passam lendo livros, serventes varrem as folhas amarelas e alunos caminham sem perceber o canto agudo do sabiá-laranjeira.

“Um sabiá-laranjeira

cantando no meu telhado

uma rede na sombra

meu potro de pêlo malhado

uma morena faceira

no bolso algum trocado

é tudo o que desejo

e estamos conversados.”

(Fred Matos)

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