Dia 8 de outubro de 2004. Cenário curioso no Instituto Educacional Luterano de Santa Catarina (Ielusc). Estudantes do ensino fundamental e médio invadiram o campus para apreciar a 3ª Mostra do Ensino Superior (MES) e os cursos que compõem o quadro que a faculdade disponibiliza. Entre eles estavam expostos: Comunicação Social, Enfermagem, Turismo, Educação Física. Mesmo com as salas e laboratórios repletos de adolescentes entusiasmados, essa oportunidade está longe dos olhos de muitos.
Na maioria dos casos o ensino superior não é tão acessível. A estudante do Colégio Estadual Jorge Lacerda Camila Carvalho solta um suspiro lento quando questionada sobre o seu ingresso no ensino superior. “Quero fazer psicologia, mas não tenho nem idéia de quanto vai custar”, confessa Camila.
Um dos coordenadores do Núcleo de Estudos de Comunicação Social (Necom), Pedro Russi confirma a presença de pelo menos 80 estudantes só na parte da manhã na sala do laboratório de pesquisa do Necom. De todos os questionamentos levantados pelos estudantes que compareceram ao encontro, Pedro destacou a dúvida dos alunos no que diz respeito ao processo de seleção para bolsistas no Necom e ao auxílio aos acadêmicos de baixa renda.
“Meu sonho era cursar um curso superior, mas eu sei que é muito difícil”. A frase da estudante de magistério e dona de casa Vitalina de Carvalho foi dita no pátio do campus do Ielusc. Suas companheiras de classe confirmaram a dificuldade em cursar uma faculdade mesmo com o incentivo governamental. “Mesmo assim a gente tem que lutar para conseguir algo melhor”, ressalta Vitalina.
Essa nova remessa de prováveis calouros à faculdade está mobilizando professores e acadêmicos. A nova lei que está sendo chamada de Lei Orgânica do Ensino Superior que será enviada pelo Ministério da Educação (MEC) ao Congresso Nacional em novembro deste ano e já é foco de debates. Esta lei irá propor a abertura de vagas para alunos carentes em universidades particulares. O MEC já confirmou que essa medida é estritamente necessária para a implantação do programa “Universidade para Todos” do governo federal.
Com um olhar distante e fala pausada, a aluna do 1º ano do ensino médio Jarsana de Oliveira almeja ocupar uma cadeira do ensino superior no curso de administração. Jarsana esclarece que pouco tinha ouvido falar do projeto de lei que estabelece vagas a alunos com baixa renda no ensino superior.
Por parte dos acadêmicos o discurso se divide. O estudante de jornalismo Juliano Nunes defende uma posição contrária a esse sistema do governo a fim de amenizar a falta de vagas no ensino superior nas instituições públicas. Segundo o aluno, houve debates sobre a reforma, realizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) propondo encontros na cidade de Curitiba. No entanto esses debates não aconteceram na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Isso aconteceu porque o DCE da UFPR era completamente contra a reforma”, diz Nunes.
De acordo com dados do próprio governo federal, foi destinada uma verba 34% maior para o ano de 2005 às universidades públicas. Entretanto, as vagas não ocupadas no ensino superior no Brasil, segundo o censo do Ibge, chegam a 42,2%. Estes contrastes intrigantes ainda geram dúvidas sobre a questão acadêmica no país.
“A reforma universitária só faz legitimar os interesses das instituições privadas”. Esse foi o desabafo de Robson da Silva aluno de jornalismo e integrante do Diretório Central dos Estudantes Florestan Fernades (DCE). Ele não vê a reforma como uma solução e sim como uma transferência de responsabilidades. Na opinião do estudante o dinheiro que está sendo investido nas instituições privadas poderia garantir a melhoria de faculdades públicas que atualmente estão sucateadas.
Para a Coordenadora de Ensino do Ielusc, Lúcia Schneider Hardt, o problema está no diz respeito ao ensino fundamental e médio defasado aplicado em muitas escolas, não dando condições de o aluno de ingressar em uma faculdade. Esta deficiência é ponto fundamental para a discussão. No entanto, Lúcia considera que a reforma universitária vem a calhar hoje, pois há um déficit muito alto de universitários em relação a outras faculdades da América Latina. Apenas 9% dos estudantes de 18 a 24 anos estão nas universidades. A meta seria chegar em 30 % até 2010 segundo dados do Plano Nacional da Educação (PNE). Entretanto, a carga histórica que o país carrega no que diz respeito à educação não pode ser resolvida em apenas quatro anos de governo.