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Matéria 0816, publicada em 29/09/2004.


Fotografia digital: sonho ou pesadelo?

Adilson Luiz Girardi, jornalista e ex-acadêmico de Jornalismo do Ielusc

O ingresso das novas tecnologias no mundo da comunicação trouxe avanços em todos os caminhos do jornalismo. Toda mudança, porém, traz consigo novos obstáculos e algumas resistências no meio profissional. Foi assim quando do surgimento do rádio, depois da televisão e por último da Internet. Percebe-se também que as mudanças de um estado para outro ocorrem cada vez com intervalos menores, resultantes talvez do próprio processo da comunicação.

Entre as novas tecnologias disponíveis, a fotografia digital aparece como uma nova forma de fazer as notícias. É verdade que ainda se caminha numa espécie de transição das ferramentas. A entrada da máquina digital não aposentou o modo antigo de captar as imagens. Até hoje ainda é largamente utilizado o método ‘analógico’, mas as vantagens da foto digital pouco a pouco vão ganhando terreno no mundo das comunicações.

André Parente, em ‘Imagem e máquina, a era das tecnologias do virtual’ diz que “O fotojornalismo na Web dá-se por dois meios. Como um procedimento analógico, baseado em foto-scannerWeb e, mais recentemente, com as evoluções da tecnologia digital, em um outro, mais rápido e dinâmico: máquina -Web. Neste segundo caso, a velocidade é fator fundamental e característica principal. Maior velocidade, maior número de imagens, menor custo e em menor tempo.”

Todas essas vantagens trouxeram questões a serem resolvidas. Uma delas diz respeito ao compromisso ético na manipulação das imagens digitais. É crescente o número de casos em que fotos são adulteradas por computador com os mais variados objetivos. É claro que essa possibilidade sempre existiu, mesmo quando as imagens eram remetidas via telefoto, mas a existência de um original poderia dissipar dúvidas sobre sua autenticidade.

De acordo com texto publicado na Internet pelo Instituto Gutenberg, “no caso da fotografia, são incontáveis os abusos, tantos que chegaram a provocar a reação dos profissionais europeus e norte-americanos que sugeriram a criação de um código: a letra M envolta em círculo indicaria a imagem manuseada.”

Sobre o mesmo assunto, fotojornalistas brasileiros se manifestaram, durante o XXVII Congresso Nacional dos Jornalistas, reunidos em Comissão Temática e sugeriram que todas as imagens digitais ou as que tenham sido digitalizadas e manipuladas sejam visivelmente identificadas como Imagem Digital (a exemplo das matérias pagas).

O problema mais grave reside justamente na possibilidade das fraudes serem cada vez mais imperceptíveis para o público receptor, de modo a criar uma ilusão e até mesmo um novo referente, dada a semelhança com o original. Não bastassem as implicações com o leitor, ainda acarreta complicações no campo dos direitos autorais.

Não se pode negar que há um certo tom de pessimismo quando se diz que as novas tecnologias propiciam mais problemas éticos e criam uma espécie de vulnerabilidade no meio jornalístico. Há exceções, e é justamente por causa delas que se procura esclarecer todos os pontos em discordância. No caso em tela, os ataques colocados serão sempre na linha da construção de um mundo melhor, a partir da comunicação eficaz. Não se pode acreditar na capacidade de criação do homem somente como um potencial sempre a serviço de projetos tenebrosos.

O comprometimento que a manipulação das imagens digitais pode alcançar vai depender sempre do grau de informação que a alteração vai deixar de levar ou que vai acrescentar à notícia. Uma vez alterado o contexto, todo o processo da comunicação pode tomar outros rumos, levando o receptor a ter uma imagem totalmente diferente daquela captada na sua origem. No entanto as facilidades advindas da nova tecnologia podem até facilitar o controle e fornecer até certas garantias na preservação do referencial, uma vez que o risco da descrença sobre a fotografia digital pode conduzir a cuidados mais rigorosos na preservação da relação imagem-referente.

Luiz Humberto, em “Chegou A Imagem Digital, Alvíssaras e Medo” lembra que essas possibilidades de análise devem levar em conta não uma forma de condenar definitivamente o acesso a novas tecnologias de informação. Devem sim afastar de maneira eficaz os medos e resistências na utilização de ferramentas que facilitem a agilizem a maneira de fazer jornalismo. Deve-se, antes de tudo, evitar tratar a questão como mera disputa mercadológica, como muitos o querem fazer.

Há quem diga, e com propriedade, que a própria edição dos textos jornalísticos já consiste numa forma de manipulação da informação. Nessas alturas, o que seria mais grave: alterar com palavras o sentido de uma reportagem ou apagar um sujeito indesejável numa fotografia? É uma discussão que vai longe...

Todas essas questões devem levar em consideração, sempre, a busca de alternativas para uma comunicação mais eficaz, para a formação de um mundo melhor.

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