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Matéria 0806, publicada em 24/09/2004.


Yes. Nós temos terroristas?

Fabrício Porto

- Jessé, vamos tirar uma fotos aqui nesta praça?

- Pode ser, pode ser.

- Documento? Me avisaron que ustedes estaban sacando fotos de la embajada americana.

- Mas, nós somos estudantes brasileiros. No suemos terroristas

Parece piada, mas essa foi a abordagem de um policial uruguaio quando avistou os acadêmicos do Ielusc Jessé Giotti e Rodrigo Miranda em frente a Parque Batlle nas proximidades da embaixada americana no Uruguai. Com um “portunhol” arranhado, os estudantes tentaram explicar o mal-entendido após serem barrados em Montevidéu. O fato ocorreu semana passada, quando os alunos participavam do 1º Fórum Latino-americano de Memória e Identidade. Naquele momento, os alvos para defender a segurança internacional de qualquer ataque terrorista eram as máquinas fotográficas e as bolsas que passaram por uma revista minuciosa do oficial.

Algo parecido acontece no documentário de Michael Moore, “Fahrenheit 9/11”, em que o cineasta também é questionado por um policial norte-americano pelo simples fato de estar filmando em frente a uma embaixada árabe. Articulando sob uma ótica denunciativa e com o auxílio de uma montagem escancarada, o filme metralha o espectador com informações que o amarram em torno de uma trama confidencial. Moore tenta desta forma por em xeque as tramóias que rondavam as vésperas do atentado ao World Trade Center.

Em 1975, no fim da guerra do Vietnã, os norte-americanos desenvolveram repúdio pelas ações militares, quando imagens de soldados estadunidenses mortos foram veiculadas nas principais redes de televisão. “Fahrenheit 9/11” não dispensa cenas de corpos de soldados e crianças mortos na guerra do Iraque, contrastando com sucessivas imagens de George W. Bush enfatizando que é o “presidente da guerra”, e que sua luta é contra o terrorismo.

Medo do “Sr. Terrorismo”. Este sentimento pardo de desconhecimento que regeu o episódio de 11 de setembro de 2001 ainda ronda as cabeças mais “patriotas” dos Estados Unidos da América. Irônico e trágico, o longa-metragem é pertinente, questionando preceitos “democráticos” e as ligações de Bush com familiares de Osama Bin Laben.

Nessa mistura de documentário com ficção colocando o próprio Moore como personagem do seu filme, o cineasta traduz a proposta clara de fugir do documentário linear e bombardear o espectador com falas ininterruptas transformando em uma narrativa preocupada com documentos. O filme arranca suspiros e risadas ao longo da projeção. A montagem marcante e determinada por contrastes sucessivos do presidente da guerra caçando patos e Bin Laden, mostrando suas novas armas em público anunciam a veia cômica do diretor.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.