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Matéria 0759, publicada em 27/08/2004.


:Claudio Moraes

Foto de Luis Melo

Luis Melo, o renascentista surreal

Fabrício Porto

Revistas antigas e discos de vinil decoram o ateliê juntamente com o papelão, o ferro, alumínio e argila, encarnando personagens moldados que fazem companhia e compõem o universo criativo do artista plástico Luis Melo, 38 anos. Nascido em Montevidéu, Uruguai, ele dava suas pinceladas desde criança. Hoje está envolvido em um projeto escultural de quase 14 metros de altura na cidade de Paranaguá (PR). Com materiais variados, devolve vida aos objetos que seriam descartados. “Há necessidade de dar utilidade às peças que hoje são detritos”, explica.

Depois de passar por maus bocados em 2002, ao tentar a legalização de sua permanência no Brasil, mesmo morando no país há 17 anos, só resolveu a situação casando-se com a brasileira Elizabete Tamanini, com quem já convivia há 15 anos.

De uma forma inusitada, ele redescobre uma infinidade de materiais. As telas de alumínio que revestem o radiador dos aparelhos de ar condicionado, por exemplo, ganham uma nova forma em suas mãos. De fácil maleabilidade para o trabalhar escultural, transformam-se em maquetes de futuros der criadas a partir dessas telas servirão para facilitar a construção da obra.

Com um pé no Renascimento e outro no Surrealismo, sendo adepto ainda da arte acadêmica e barroca, Melo produz trabalhos que contrastam com o dos artistas locais. Segundo ele, Juarez Machado traça uma linha conservadora, baseada no século passado, com toques muito luminosos. Indica o artista conceitual Luiz Henrique Schwanke como um contemporâneo de sua época, porém cujas obras não sofrem o impacto ou interferência do meio em que estão inseridas.

Não discriminando cores e materiais, pinta com tintas automotivas, tinta guache, tinta acrílica ou a óleo. No primeiro quadro do autor foi utilizada a graxa de sapato. Dessa forma, Melo define suas obras como metamorfoses de estilos, firmando uma linha surrealista de linguagem. Para o artista, o homem faz parte de seu tempo, não está nem após, nem atrás dele.

Obras do autor desfilam por museus, igrejas e boates da cidade, no entanto, a variabilidade não o preocupa. Define os trabalhos como prestação de serviços. O artista pesquisou as variadas simbologias e ícones para pintar tanto a Igreja Nossa Senhora Imaculada Conceição, no Bairro Boa Vista, quanto para ilustrar as paredes de um prostíbulo da cidade e transmitir nelas sensualidade com cores mais gritantes.

Com a fundamentação de Caravaggio – Michelangelo Merisi – o autor iniciou uma releitura das obras do século 16, porém mergulhado no modernismo. Nessa releitura, Melo insere um trabalhador metalúrgico para personificar José de Arimatéia, o homem que retirou Jesus Cristo da cruz, exposta na parede da igreja do Boa Vista. A obra desapareceu em meio às consecutivas reformas promovidas no santuário, desvalorizando e desrespeitando a arte local.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.