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Matéria 0721, publicada em 11/08/2004.


:Divulgação

Banda Reino Fungi toca no colégio Rodolfo Meyer

Rock and roll até debaixo d’água

Rosana Rosar e Fabrício Porto

Uma pequena casa de madeira, uma mesa de sinuca, um clássico bar com direito a salgados e bebidas variadas compõem um cenário diferenciado de entretenimento na noite joinvilense. Afastados das boates tradicionais da cidade, roqueiros se reúnem no “Zepa”, ou Ponte Baixa, como é chamado, próximo à Estrada da Ilha, às margens do Rio Bonito. Essa foi a maneira que os amantes do velho e bom rock and roll encontraram para curtir as músicas de bandas locais. Nada de filas, brigas, consumação obrigatória ou ingressos antecipados. A casa é um dos cenários do rock na cidade e já conquistou uma gama de admiradores.

Bandas de garagem invadem o espaço do velho “Zepa” e fazem seus shows, com instrumentos e aparelhos carregados e montados em um palco de madeira improvisado. A batida forte do rock que conquistou multidões com Elvis Presley e Chuck Berry, nos anos 50, e arrastou uma legião de fãs pelo mundo na década de 60 e 70, com Beatles e Rolling Stones, ainda faz sucesso. Assim como velhas lendas vivas do blues: B. B King, Robert Johnson e Steve Ray Vaughan. Distorções da guitarra de Jimi Hendrix, a diversidade de Raul Seixas e até mesmo Tim Maia completam a variedade de sons que servem como ponto de referência para bandas de “garagem” da região de Joinville como Reino Fungi, Lopez, Karadura Blues Brothers, Os Depira, entre outras.

A mistura de ritmos dá origem a novos estilos, como o samba-rock, e a nomes como Jorge Benjor, Los Hermanos e Mombojó. Essa diferença de ritmos agrada o vocalista Hélio João de Souza Júnior, da banda Os Carademarte. Segundo ele, a cena melhorou muito de um ano para cá. “Há mais lugares para tocar, as bandas estão mais unidas e mostram competência”, afirma.

Mesmo ainda fazendo apresentações em palcos improvisados, ele lembra que em 2001 as condições eram precárias. Era difícil encontrar lugares para tocar, principalmente quando se tratava de bandas de punk e hardcore, caso dos Carademarte. Tocavam no Chaplin, antigo bar da Rua Visconde de Taunay, e tinham problemas, pois o local não possuía alvará para comportar um show.

Com boas bandas e alguns locais para realização de shows, Joinville está ganhando espaço no cenário rock de Santa Catarina e do sul do Brasil. Músicos locais confirmam que há pouco tempo começou a ser formada uma “cena” na região. Ou seja, mesmo sendo poucos, existem espaços onde se pode tocar e divulgar a música alternativa.

Quando Helliot Júnior, 25 anos, baterista da Lopez começou a tocar, o pedestal do microfone era uma vassoura e o microfone era de karaokê. Isso foi há nove anos. Hoje, tudo está mais fácil. A internet serve como ferramenta de apoio para divulgação, agenda de shows e contatos. “Dá até para escutar o som de uma banda independente pela net”, entusiasma-se.

Outro baterista de garagem, Hugues Torres, 23 anos, integrante da banda Reino Fungi, acredita que a cidade está criando uma personalidade e uma verdadeira cena de rock and roll. Para ele, as bandas estão preocupadas não só em copiar, mas em inventar. Reclama do preconceito ainda existente quando se quer começar alguma coisa e afirma que isso é dobrado quando o que se quer começar é relacionado ao rock and roll.

Para o roqueiro Fábio Raposo, apresentador do Programa É Rock, da Rádio Udesc de Joinville, a cultura rockeira está se segmentando. “As bandas com afinidades”, afirma, “se juntam e fazem seus eventos”. Vê isso como positivo, pois estimula a realização de eventos, mas negativo, por criar também a famosa “panelinha” e um certo receio em misturar as tendências. Por outro lado, critica algumas bandas por adequarem seu estilo de forma comercial, com o objetivo de conseguirem espaço nas rádios.

Raposo acredita que a autenticidade é o mais importante, pois quando a banda é reconhecida há uma relação de respeito, o público torna-se fiel e acaba se identificando. Entristece-se ao comentar que hoje em dia as rádios tratam a música como mercadoria e o chamado jabá — troca de favores entre gravadora e emissoras — é tão evidente que até as gravadoras admitem. Apesar dos avanços, em sua opinião ainda existe muito preconceito contra o rock em Joinville. “Mesmo com tantas bandas surgindo, ainda há pessoas que não assimilaram que o rock já faz parte do cotidiano desta cidade. Sempre tem quem prefira relacioná-lo a brigas, drogas, magia negra, sujeira. Generalizam e esquecem que é um verdadeiro legado cultural que se ramificou e que por isso vai se perpetuar por muito tempo”.

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