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Matéria 0712, publicada em 22/06/2004.


:Fabrício Porto

Apertem os extintores, os estudantes de direito vão voltar

Fabrício Porto

Está aberta a nova temporada dos Jogos Jurídicos, evento que reúne estudantes de direito do Rio de Janeiro e de Joinville. Este ano com novas provas, incluindo destruição de portas, arremesso de fezes no corredor do hotel e corrida de revezamento de extintores. Essas deveriam ser as competições para estudantes de direito da PUC-Rio que participaram dos jogos jurídicos Sul-Rio deste ano em Joinville. Tagarelas, com dentes saudáveis e roupas importadas esses estudantes enchem o peito para pronunciar algumas palavras em latim e punir atitudes ilícitas como a do juiz João Carlos da Rocha Matos que vendia sentenças para criminosos e foi detido pela Polícia Federal durante a operação Anaconda.

A diferença essencial da baderna desencadeada por eles e o ex-juiz seriam os golpes de jiu-jitsu que Rocha Matos teria dado em alguns de seus companheiros de cela, sendo que os estudantes não precisaram de artes marciais para quebrar o pau na rua e mais três portas de um hotel da cidade no ano passado. Mas crimes envolvendo milhões de reais e vendas de sentenças para presos ainda não fazem parte do currículo desses calouros de direito.

– O senhor é advogado? Pois bem, meu filho ateou fogo em um índio.

– Na minha época ateávamos fogo em hotéis, quebrávamos algumas portas... O caso parece ser grave, senhora.

O diálogo parece improvável? Logicamente não. Aconteceu com o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos assassinado por Max Rogério Alves, Antônio Novély Cardoso de Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida e Eron Chaves Oliveira, adolescentes de classe média alta de Brasília que atearam fogo no índio que passava a noite num banco de praça. Eles foram condenados a 14 anos de prisão em regime fechado. Atitudes inconseqüentes como essa já foram condenadas pela população nacional, hoje parecem renascer depois da asquerosa postura dos acadêmicos de direito que visitaram Joinville nos dias 13, 14 e 15 de junho deste ano.

Assim, os jogos jurídicos sediados em Joinville foram pano de fundo para a barbárie de estudantes de direito da PUC-Rio. Portas e extintores também foram vítimas de alunos no ano passado no Hotel Príncipe. Objetos quebrados e a bagunça generalizada parecem fazer parte do currículo daqueles alunos, porém esse ano eles aprimoraram suas técnicas depredatórias. Cerca de 155 deles ocupavam os quartos do Hotel Alven, localizado no centro da cidade. A parte superior do prédio pegou fogo no dia 13 de junho e por pouco não ocorreu uma tragédia maior entre os hóspedes e funcionários do prédio.

Seria patético se não fosse trágico pensar que gente desse calibre irá defender ladrões, assassinos, estupradores e serão os mais novos nomes da política do país. Da mesma forma como o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, que entrou no rol dos maiores ladrões que a nação já teve. Ele já tinha embolsado pelo menos US$12,7 milhões depositados na Suíça e nas Ilhas Cayman, mas seu passado não teria sido tão brilhante quanto de alguns estudantes do Rio de Janeiro, esbanjando arrogância e estupidez a ponto de inclusive escancarar suas atitudes na internet. Depois da fumaça baixar, o clima esfriar e calcular os prejuízos dos hotéis do centro da cidade, a população estupefata espera a justiça dos desdentados abocanhar os novatos tubarões do judiciário, que até agora não sentaram nos bancos dos réus.


 

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