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Matéria 0703, publicada em 04/06/2004.


:Monique Bione

Peça \\\"Traída e Travolta\\\" no evento da Geaaj

Adoção, uma prova de amor

Monique Bione

Com o braço todo arrepiado e uma forte emoção na voz. É assim que Rosana Ramsdorf, presidente do Grupo de Estudos e Apoio à adoção de Joinville, se mostra ao definir seu sentimento diante do evento promovido pelo Geaaj no Shopping Cidade das Flores nos dias 22 e 23 de maio em comemoração ao Dia Nacional da Adoção, dia 25 de maio. “A adoção é o amor em processo inverso. A mãe quando está grávida ama o seu filho mesmo antes de conhecê-lo. Já a mãe adotiva, primeiro conhece o filho e o amor vem aos poucos. Ou seja, o amor é uma construção de convivência”, diz Rosana, que tem dois filhos adotados. Ela quer chamar a atenção das famílias para a adoção de crianças maiores de 12 anos, que não fazem parte da preferência na quase totalidade dos processos. “Os pais não devem ter medo de adotar as crianças maiores. Pois são duas histórias de vida que se unem para formar uma família”.

O Geaaj foi criado em 1997, mas ganhou maiores dimensões só em maio de 2002 com a Lei Nacional da Adoção, a 10.447. É formado por voluntários e busca desenvolver um trabalho para esclarecer e incentivar a adoção. Pessoas preocupadas com as crianças e adolescentes que não têm onde morar e necessitam de uma família para um futuro melhor. Os principais objetivos do Geaaj são orientar pais e filhos por adoção, promover melhor comunicação com os vários órgãos da comunidade.

Em Santa Catarina, nos 75 abrigos existentes, encontram-se 104 crianças aptas a serem adotadas. Só em Joinville são 19 crianças, a maioria delas com mais de 12 anos. “O nosso grande desafio agora é não deixar essas crianças ficarem até os 18 anos no abrigo. Temos que encurtar esse tempo ao máximo”, explica Nádia Regina Paes Machado, assistente social do Fórum de Joinville e integrante do Geaaj. Nádia comenta que é dada total prioridade para os pais que desejam adotar as crianças de mais idade. “Se chegar uma pessoa aqui hoje e disser que quer uma criança de 13 anos ela vai esperar no máximo um mês para levar essa criança para casa. Agora, se a pessoa ou casal preferir um bebê, pode levar até dois anos na fila de espera”, frisa Nádia. Segundo a CEJA – Comissão Estadual Judiciária de Adoção – 99% dos candidatos só aceitam bebês. “Todas as dificuldades e problemas não estão nessas crianças maiores, e sim, nos pais adotivos. Eles têm de estar receptivos e pacientes para adaptar os filhos adotivos no ambiente familiar”, diz.

Ao contrário do que a maioria da população pensa, o processo adotivo não é tão burocrático. “Temos que desmistificar essa idéia e mostrar a simplicidade do método usado”, acrescenta Nádia. “Outro desafio é esclarecer quanto as adoções feitas de forma ilegal, que podem ser legalizadas”, explica. Os interessados devem participar da reunião de orientação à adoção, coordenada por Nádia e que acontece uma vez por mês. A próxima será dia 26, às 18 horas, no setor de Serviço Social do Fórum Governador Ivo Silveira. “Nas reuniões são esclarecidas todas as dúvidas sobre adoção, quais os procedimentos legais e mostrados os álbuns com fotos das crianças dos abrigos”, explica. O segundo passo é levar os documentos necessários para inscrição no cadastro de pretendentes à adoção. Os documentos necessários são: requerimento dirigido ao juiz da Infância e da Juventude; atestado de antecedentes criminais; atestado de sanidade física e mental; comprovante de rendimentos; comprovante de residência; certidão de casamento ou nascimento, se solteiros; carteira de identidade; estudo elaborado pelo assistente social do Fórum da cidade onde residem os requerentes.

Todo o processo ocorre em, no máximo, 90 dias, período de tramitação na Vara da Infância e da Juventude. É importante frisar que todo esse procedimento é gratuito. Os pretendentes à adoção esperam em média dois anos dependendo do perfil de criança que desejam. Os candidatos à adoção devem ter mais de 21 anos. Se for um casal, um dos cônjuges pode ter idade inferior; família estrangeira residente ou domiciliada fora do Brasil; tutor ou curador, desde que encerrada ou quitada a administração dos bens do pupilo ou adotado. Não podem adotar, irmãos ou avós do adotado.

História cheia de emoção e trabalho voluntário

Sempre sorridente, comunicativa e com olhos brilhantes de felicidade, Cristiane Aparecida Kamarowski, 28 anos, estudante de jornalismo do Bom Jesus/Ielusc, passa para quem está perto alegria e otimismo. Em meados de agosto de 1975, em Curitiba, Cristiane foi adotada por Wally Bartsch e Francisco Kamarowski. “A minha mãe biológica estava desesperada para me dar e oferecia a todos que passavam nas ruas de Curitiba”, diz Cristiane. A sua adoção não foi nos parâmetros legais. “Quando fui entregue para os meus pais adotivos, eles não procuraram o fórum, só me registraram”, explica.

Até hoje, Cristiane nunca desejou conhecer a mãe biológica. “Sempre fui cercada de muito amor e carinho pelos os meus pais. Isso é o bastante”, diz. Ela comenta que se encontrasse a mãe que a abandonou, apenas agradeceria por ter dado a vida à ela. “Me considero uma garota de sorte por ter recebido tanto amor da minha família”, frisa.

Em homenagem aos pais adotivos, Cristiane escolheu como tema de seu projeto de conclusão de curso a adoção, com o título “Qual o Discurso de Adoção Feito Pelo Jornal A Notícia no Caso de Yasmin”. Foi fazendo as pesquisas para o trabalho que ela conheceu a Geaaj e se tornou assessora de imprensa voluntária. Por estar tão envolvida nesse universo da adoção desde criança, Cristiane quer fazer mais. “Ainda quero adotar uma criança. E uma de idade avançada, pois são as que os outros não querem adotar”, assegura.


 

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