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Matéria 0691, publicada em 31/05/2004.


Velhice não é sinônimo de infelicidade

Rosana Rosar

Quem tem mais de 60 anos não precisa ficar em casa o tempo todo, lamentando-se da idade, das doenças, dos problemas e sem ter o que fazer. Uma vez por semana, o grupo Flor da Idade, composto por senhoras do Bairro Morro do Meio reúne-se e, em meio às conversas e risadas, produzem os mais diversos tipos de trabalhos manuais. Do outro lado da cidade, no Bairro Bucarein, 18 idosos moram no Lar Betânia. A rotina diária começa cedo, acordam geralmente às 6 horas, se arrumam, tomam café, vão à missa. No decorrer do dia desenvolvem suas atividades, alimentam-se e distraem-se conversando. Costumam dormir às 21 horas.

Leila Alves da Maia, 50 anos, coordenadora do Grupo da Flor da Idade, localizado no Morro do Meio, conta que o grupo existe há oito anos, mas somente nos últimos dois é que passou a receber o apoio da Secretaria do Bem-Estar Social que ajuda com R$ 550 mensais. Leila chama carinhosamente as participantes do grupo de “meninas” e as auxilia na confecção de jogos de toalha, tapetes, pintura em tecido e outros tipos de artesanato. Reclama do preconceito existente, fala que o estatuto não está sendo cumprido. “Os jovens esquecem que serão idosos no futuro. Deve existir mais respeito”, ressalta ela.

Ermínia Medeiros, 63 anos, passa as tardes de quinta-feira no galpão do grupo, aprendendo os trabalhos manuais e conversando com as colegas. Assim se distrai e deixa os problemas de lado. O estado nega seu pedido de aposentadoria, alegando que ela não tem tempo de serviço suficiente. Sem condições de se sustentar sozinha, ela mora com o filho caçula. Em casa quando está nervosa, pega um crochê ou algo que aprendeu com o grupo e consegue assim se distrair.

Catarine Ranno, 62 anos, freqüentadora do grupo, se sente triste ao lembrar que não conseguiu sua aposentadoria e, quando procurou um emprego, foi chamada de velha. Separada, mora com o filho caçula e não quer vê-lo casado. Ciumenta, recusa-se a perder as regalias e os mimos que o filho destina a ela.

O Lar Betânia, no Bairro Bucarein, abriga atualmente 18 hóspedes. Inaugurado em dezembro do ano passado, o lugar tem espaço para mais 30 idosos. Metade dos moradores colabora com R$ 650 mensais e a outra parte ajuda com o que pode. O lar também recebe doações da comunidade.

Bárbara Cristiane de Mira, formada em terapia ocupacional, trabalha há um mês como voluntária, no Lar Betânia. Conta que no começo foi complicado: “Eles se recusavam a fazer as atividades e não eram receptivos. Agora participam das brincadeiras, gostam quando podem cantar e dançar”.

Odalzita de Barros Weber, mais conhecida como vó Zita, chegou ao lar faz 40 dias. Sente-se feliz ali. Deixou a casa das filhas, pois não agüentava mais a pressão. Morava um pouco com cada filha e tinha de ouvir críticas e deboches do genro e de seus familiares. Sentia-se vigiada e ficou internada por um período. Agora, sente-se melhor e é bem tratada.

Maria Tereza Silveira, 65 anos, sofria de solidão na casa dos filhos. Eles trabalhavam muito e ela decidiu morar no lar. “Meus filhos estão construindo suas vidas, eu já construí a minha. Aqui no lar tenho companhia para conversar e me distrair”.

O Estatuto do Idoso, criado no final de 2003, possui 118 artigos que prevêem a melhoria das condições de vida dos idosos. De acordo com o estatuto, é obrigação da família, da sociedade e do poder público assegurar a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação e à cultura. O direito ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária também é assegurado. Sabe-se que muitas vezes, esses artigos não são cumpridos.

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