Há algum tempo começou uma guerra contra os males da miséria no bairro Jardim Paraíso, em Joinville (SC). Longe das ações violentas mostradas pela imprensa, as quais caracterizam a imagem do local, essa batalha não gera violência, banhos de sangue e nem há feridos. O “comandante”, Carlos Pinto, na sua qualidade de padre, pede para que nesta luta haja muita alegria e motivação, e que o desespero não aflija os militantes e a coragem tome conta da infantaria. O incentivo à mobilização social e o espírito de comunidade estão sendo as armas na luta contra as precariedades apresentadas no bairro. Neste momento, a união é essencial para a conquista da vitória sobre a pobreza.
O povo está mais consciente das suas necessidades e a maioria passou a acreditar que a falta de recursos pode ser combatida através da manifestação do bairro na busca da organização comunitária. Esta batalha pela humanização do bairro não seria tão lucrativa se não fosse a participação do padre Carlos, o qual é visto como o grande responsável pelas mudanças. “Se a fé move montanhas, pode mover um bairro inteiro”, brinca o líder religioso.
A chegada do padre se fez em fevereiro de 2002. Ele observou a presença de 44 igrejas na localidade, mas a comunidade não vivia em comunhão. Os problemas com a infra-estrutura estavam aumentando e nada era feito, uma vez que o bairro estava no auge de seu crescimento populacional, e a maioria do povo era proveniente de outras regiões do Brasil. Estes migrantes vieram à procura de melhores condições de vida, no entanto, encontraram mais dificuldades. As escolas estão saturadas, falta saneamento básico adequado e a segurança mostra-se fragilizada.
Maria Inês Gonçalves, agente de saúde e líder comunitária, festeja as grandes mudanças do bairro, mas há muito a ser realizado. Inês garante que o reconhecimento do bairro é reflexo de muitas ações do padre Carlos. Ele chocou o bairro com a sua chegada. No início, as pessoas estranharam suas atitudes, pois saía pelas ruas armando mutirões de limpeza, criou hortas comunitárias e sensibilizou o povo a agir no seu espaço. Para a agente de saúde o essencial no momento é investir no lazer. Por exemplo, a criação de um palco alternativo para a organização de eventos, onde os jovens possam criar espetáculos musicais e teatrais, e largar a criminalidade.
Com as inúmeras ações de cunho social, padre Carlos conquistou parcerias e uma delas é com a Escola Municipal Profª Rosa Maria Berezoski Demarch. Juntos lançaram o projeto “Lixo é luxo”, responsável pela conquista do Prêmio Embraco de Ecologia. Este projeto teve início entre as crianças da catequese, em que cada uma ganhava um saco para o recolhimento do lixo de suas casas, após as crianças da escola começaram a fazer parte do trabalho e hoje conta com a colaboração de toda a população do Paraíso. A renda do lixo reciclável cobre os gastos com as hortas comunitárias, serve de ajuda aos mais necessitados, entre outras eventualidades.
O presidente da associação de moradores, Francisco Paulo Rodrigues, acredita num futuro mais próspero. Diante da união do poder político, religioso e comunitário, grandes problemas poderão ser solucionados, como dar ao povo a oportunidade de usufruir novas formas de conhecimento, dignidade e saúde para continuar no caminho do desenvolvimento social.