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Matéria 0637, publicada em 30/04/2004.


Estímulo à leitura começa na infância

Rosana Rosar

Os brasileiros lêem pouco. Os resultados do III Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), pesquisa realizada pela ONG Ação Educativa, em parceria com o Instituto Paulo Montenegro constatam que apenas 25% da população têm habilidade plena em leitura e escrita, 67% são analfabetos funcionais, 37% têm nível básico de alfabetização e 8% são analfabetos absolutos.

Alexandra Faedo, professora da 1ª série do colégio Gustavo Augusto Gonzaga, no bairro Saguaçu, afirma que o professor deve gostar de ler, para conseguir levar textos e livros interessantes às crianças tornando a aula menos rotineira e cansativa. “Todas às quartas-feiras, as crianças levam três livrinhos para casa. Peço para os pais ajudá-las e estimulá-las a ler as histórias. Na outra semana, alguns alunos contam para os colegas o que leram”.

Maria da Luz, bibliotecária do Ielusc, afirma que grande parte dos alunos lê por obrigação e não por vontade própria. “A maioria dos jovens estuda e trabalha, por isso falta tempo para ler mais. Dez por cento dos acadêmicos lêem o que não é pedido, como por exemplo, jornais, revistas e livros de outros assuntos”. Ela diz que, próximo de feriados, fins de semana e férias, os livros de literatura e complementares aos cursos são retirados com maior freqüência.

“Quem afirma ler poucos livros por falta de tempo e dinheiro está se enganando. Essas pessoas não vêem a leitura como uma prioridade”, diz Margarete Missen Drefuh R, dona da Livraria Midas, uma das maiores da cidade. Complementa que o universitário está tão acostumado a copiar textos de livros e ler apenas trechos recomendados por professores que acaba, muitas vezes, não tendo vontade e capacidade para ler um livro com começo, meio e fim.

Os livros mais vendidos, divulgados na revista Veja e em alguns jornais, ficam expostos em lugar de destaque e são substituídos semanalmente nas livrarias Midas e Curitiba. Os preços variam de R$19,90 a R$60,00. “Os livros sugeridos nessas listas são muito procurados, juntamente com os especializados, indicados por alguém de destaque dentro de um grupo, o diretor de uma empresa ou algum professor”, destaca Margarete.

Rejane Hagemann, estudante de jornalismo do Ielusc e funcionária das Livrarias Curitiba, admite que a leitura não é prioridade para alguns. Muitas pessoas não têm dinheiro para comprar um livro, mas gastam R$ 50,00 num sapato ou em outro tipo de bem de consumo. Nas livrarias Curitiba, os jovens são os maiores consumidores. Procuram por livros de auto-ajuda, religiosos, e universitários. Na Midas, a maior parte dos consumidores varia de 30 a 48 anos.

Edson Burg, do terceiro semestre de Jornalismo, afirma que muitos lêem apenas por ler. Considera a leitura essencial para o entendimento e a evolução da sociedade. “O que contribui para a falta da prática de leitura é o preço dos livros, bem acima daquilo que a população pode pagar. Além disso, o acesso às bibliotecas e arquivos jornalísticos é bem complicado”. O acervo da biblioteca pública está desatualizado e o Arquivo Histórico está com parte de seu material contaminado por DDT (diclorofeniltricloroetano) e BHC.

Base para o conhecimento e despertar da consciência política é como a professora e socióloga Valdete Daufemback vê o ato da leitura. “As crianças devem ser estimuladas pelos professores e não obrigadas a ler. É na primeira infância que se cria o gosto pela leitura e busca do conhecimento”. Complementa que os meios de comunicação desestimulam as pessoas a lerem. É mais cômodo saber das notícias pela televisão do que pela leitura de um jornal ou uma história em livro.

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