Que Joinville é uma cidade industrial todo mundo sabe, mas ter certeza de que essa característica influencia nas atitudes e forma de se vestir dos habitantes não é tão fácil. Contudo, muita gente confessa não ter tempo e não se interessar pelo diferencial da moda. A estudante Jaqueline Martins acha que a busca pela aceitação na sociedade é também um motivo para a igualdade na forma de vestir: “As pessoas daqui não se interessam tanto por seguir a moda”, diz.
A estudante reclama que há poucas opções de lazer na cidade, o que faz com que não haja tanto interesse em combinar cores, experimentar acessórios e tudo mais. “Para que vou comprar uma roupa diferente se não tenho para onde ir com ela?”, diz Roseti Castella, 39 anos, outra estudante. Roseti observa que a cidade não oferece opções de vestuário para pessoas comuns – “baixas e gordinhas” – como ela. “A moda só serve para as mulheres magras e altas”, finaliza Roseti.
Nas vitrines da cidade ainda se podem ver os vestígios do verão, com roupas de cores cítricas e sandálias confortáveis devido às promoções de queima de estoque. Mas a tendência para a temporada outono-inverno começa a preencher as lojas locais. A indústria têxtil joinvilense segue o circuito nacional de moda que aposta no verde envelhecido e marrom, conforme o evento São Paulo Fashion Week (PSFW) em grifes como a Patachou, Casa de Noca e V. Rom.
O estilista J. Moser, de Joinville, que trabalha desde a infância com moda e há 12 anos inaugurou a loja com mesmo nome, gosta das tendências mostradas no eixo Rio-São Paulo. “Estou seguindo as cores – pink, amarelo-ouro, verde, marrom – nos meus modelos, pois cores vibrantes estão em alta nesta temporada”, afirma. Os sapatos obedecem à mesma cor, em especial as botas. Apesar das inovações, alguns joinvilenses não se interessam tanto por seguir a moda, confirma o estilista. “As pessoas daqui não têm tanto interesse por inovação, é uma cidade de muito trabalho e pouco costume de sair para a noite. No entanto, ainda há quem dê abertura para o novo, pois percebo isso quando meus clientes me procuram para fazer algum modelo de vestido para festa, por exemplo”, ressalta.
História e moda se unem e ganham força na coleção outono-inverno 2004. O que se tem visto nos desfiles das principais grifes é nada de futurismo ou motivos espaciais. A idéia que tem feito a cabeça de diversos estilistas é a moda retrô, que traz para as passarelas modelitos dos anos 20, 50 e 80. A tendência foi constatada na 16ª edição do SPFW, realizada entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro. Para alguns estilistas, a moda brasileira amadureceu e ganhou vida, as grifes estão produzindo são roteiros próprios e mostrando campanhas criativas nos desfiles mundo afora.
Muitas estampas, cores fortes, pelerines (casacos sobrepostos), scarpins de salto agulha (instrumento de tortura para os pés), mocassins, botas envernizadas de todos os tipos estarão presentes em vários ambientes tupiniquins no próximo inverno. Os acessórios seguem as cores do vestuário e brincam com estilos de todas as épocas. “Scarpin de salto baixo, cores fortes como pink, envernizados e bolsas de mão pequenas enchem as vitrines e entram, contudo para completar o look dessa temporada”, confere Valdirene Leite, gerente da loja Rochelli, instalado na esquina das ruas Princesa Isabel e João Collin, no Centro de Joinville. Distoando dos outros anos, que sempre traziam cores sombrias e pesadas, a tendência é se divertir com diferentes tonalidades e formas.
Estilo é o que o gerente da loja multimarcas Ethos (Shopping Cidade das Flores) Édison Kaniski, 20, coloca em primeiro plano. “Não existe um padrão, pois cada marca segue seu estilo seja numa cor, num corte e numa história”, lembra Édison. A moda engloba uma série de elementos como música, cultura e arte, que influenciam na forma de ser e conseqüentemente na forma de se vestir. “Roupa é atitude e idéias, e não podemos colocar uma regra para isso. As pessoas são diferentes umas das outras e buscam coisas diferentes seja num tênis mais colorido ou em um tecido”, diz Kaniski, que trabalha há mais de cinco anos com vestuário.
“Percebo muitos clientes que procuram a minha loja não querendo mais seguir um padrão de grife, e sim, se sentir bem sem necessariamente estar usando uma grande marca. Hoje a regra é não seguir regra”, diz. Kaniski, no entanto, diz que o povo de Joinville não tem muita diferenciação de estilos, seguindo quase que a mesma linha de roupas. Mas ele acredita que com as novidades que chegam a cada dia na cidade isso tende a mudar. “Vejo a busca por coisas novas e procuro sempre mostrar para os consumidores o que existe de melhor e novo no mercado e fora dele”, diz Édison.