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Matéria 0312, publicada em 26/09/2003.


:Divulgação

Ex-aluno do Ielusc relata viagem ao México

Adilson Girardi

Viajar é muito bom. Ganhar uma viagem como reconhecimento pelo esforço individual é melhor ainda. Fiquei sabendo do Prêmio Mérito Universitário Catarinense em 2001, quando uma colega de turma foi agraciada. Não participei daquela edição porque não havia mais tempo hábil para a inscrição. Foi melhor assim, pois teria perdido a oportunidade de conviver com cinco colegas excepcionais: Karla, Michelle, Mariça, Ramiro e Marcos.

Não sei se foi mais difícil ganhar o prêmio ou receber o dinheiro. Às vezes é complicado ser simples. O depósito do dinheiro chegou no último dia útil antes da viagem (fiz o saque às 17h30). Não pude pagar as passagens com antecedência. Por obra do destino, o pessoal da agência se enganou, achando que eu já havia feito o pagamento, e liberou as passagens. Era para eu ir mesmo...

O dia 1º de setembro começou bem cedo. Acordamos às 4h30 para ir ao Aeroporto Hercílio Luz em Florianópolis. Eu, Marcos, Ramiro e Mariça fomos acordar a moça da Anvisa, para fazer a carteira internacional de vacinação (não serviu pra muita coisa. Teria sido mais útil nos vacinarmos contra picadas de insetos ou contra os efeitos da pimenta). Às 7 horas embarcamos no avião da Varig, com destino a São Paulo. Olhando de cima, Florianópolis é ainda mais linda. Depois de um gostoso café no avião (o serviço foi muito bom) chegamos em São Paulo, no aeroporto de Guarulhos. Embarcamos no avião com destino ao México (nove longas horas de viagem).

Chegamos na Cidade do México às 18h30 locais (o fuso horário é de menos duas horas). No aeroporto, fomos convidados a checar informações na sala da Polícia Federal do México. Sem problemas, afinal, foram só 40 minutos. A polícia desconfiava que estávamos tentando atravessar a fronteira para os Estados Unidos.

Trocamos dólares por pesos, ao câmbio de 10,78. Tínhamos que pegar um táxi e candidatos para nos levar é que não faltaram. (Ainda bem que ninguém havia nos falado sobre a fama dos taxistas, senão acho que teríamos ido a pé...

Depois de alguns transtornos no trânsito (uma loucura) o taxista conseguiu nos largar numa rua nos fundos do albergue. A cidade estava em polvorosa, por causa do 3° Informe Presidencial. Muitos policiais se amontoavam pelas ruas. A primeira impressão é que estávamos num campo de concentração, com um monte de gente de uniforme apitando sem parar... Depois de sermos atendidos na recepção do Hotel Catedral, recebemos o material de cama para nos acomodarmos no quarto 209. Este seria o nosso QG nos próximos 11 dias.

Estamos no Centro Histórico, um lugar, como disse a Karla, que transpira cultura. O que marca logo de início é a quantidade de camelôs espalhados pelas calçadas e a quantidade de pessoas que comem na rua. Fomos conhecer a catedral, bem em frente ao albergue, ponto principal do centro histórico. A igreja sofre uma inclinação por causa dos problemas estruturais e de solo. Há uma equipe fazendo reparos no prédio e um prumo colocado no centro da catedral controla a correção do nível da construção. Fotos são permitidas, mas sem flash.

Visitamos o Palácio Nacional, com suas paredes coloridas com pinturas. Percebemos ali a aplicação dos estudantes, que sentavam em frente aos quadros para fazer anotações em seus cadernos. Em seguida entramos no prédio do Ministério da Justiça, a Suprema Corte. Os mexicanos fizeram questão de manter intactos os lugares históricos e cada peça é acompanhada de um roteiro que explica fatos da história recente do México. Nem precisava, pois qualquer morador da cidade sabe contar toda a história...Paramos para um almoço à base de bolachas e água... Ainda não havíamos descoberto a cozinha do albergue.

Partimos para nossa primeira viagem de metrô. O preço da passagem é de dois pesos (60 centavos, mais ou menos). Seguimos para a embaixada do Brasil, onde tínhamos visita agendada para as 16 horas. Depois de muito andar e perguntar, chegamos. O portão estava fechado e, sem alternativa (e sem ver a seta que indicava a entrada) batemos palmas na porta da embaixada.

Fomos atendidos pelo porteiro, que nos encaminhou à sala de recepção. O funcionário da embaixada que nos recebeu não pôde ficar muito tempo conosco e chamou outro secretário para nos atender, juntamente com Márcia (que insistia em dizer que nada era com ela...). Conversamos um pouco sobre o México, sua economia, costumes e lugares para visitar. Tudo muito rápido. Na verdade, as pessoas que trabalham na embaixada estão de saída, muito provavelmente em função da troca do governo no Brasil. Marcos deixou algumas lembranças de Presidente Getúlio na embaixada. Tiramos algumas fotos dentro e fora do prédio. A água estava muito gostosa... mas a recepção e o atendimento poderiam ser melhores.

A embaixada fica num bairro rico da cidade. As ruas são mais limpas e as casas com muros altos e quase todos com câmeras instaladas. Depois do susto que o secretário nos deu sobre os taxistas, decidimos voltar para o albergue à pé. No retorno tentamos chegar à biblioteca, mas, cadê o portão de entrada?

Aproveitamos para comprar algumas lembranças pelo caminho. Começava aí um périplo pelas diversas feiras que a cidade oferece. No comércio, o primeiro contraste: o que se vende nas ruas tem preços acessíveis; nas lojas, com raras exceções, o preço é praticamente inviável.

Retornamos. No albergue há uma mistura grande de nacionalidades. São estudantes brasileiros, portugueses, norte-americanos, australianos, alemães, italianos, entre outros. Nessa noite ficamos conhecendo a cozinha e preparamos nossa primeira macarronada. O pessoal do albergue também deu um jeito na temperatura da água do chuveiro. Eu, particularmente, inicio a leitura dos primeiros exemplares dos jornais locais.

Quarta-feira, dia 3, saímos em fila indiana para mais um dia de caminhadas. Passamos no banco para trocar dinheiro. Em princípio, achamos que a agência estivesse fechada, mas logo percebemos que bastava empurrar (e não puxar) a porta para que ela se abrisse... Depois disso fomos conhecer os sebos, que ficam na mesma rua do banco. A propósito, no México as lojas são setoriais. Por exemplo, os sebos ficam todos na mesma rua, a papelarias ficam todas em outra, e assim por diante.

Nos surpreendemos com os preços dos livros. Alguns deles chegam a custar menos da metade do que se paga no Brasil. Há uma diversidade muito grande de títulos. Outra vantagem foi a de conseguirmos descontos, que variavam de 5 a 15%.

O próximo destino foi o Museu de Belas Artes. É incrível como o governo do México consegue manter estruturas tão grandes nos museus. São muitos seguranças (quase dois em cada sala). Os prédios são antigos e sem pintura por fora, mas por dentro é tudo muito luxuoso. Novamente nos deparamos com estudantes fazendo pesquisa. Os trabalhos expostos impressionam pela grandiosidade, pela história que é contada em cada quadro, cada objeto, cada escultura.

Saímos dali e antes que conseguíssemos respirar o ar da normalidade estávamos em outro museu, desta vez o Nacional de Artes. Mais pinturas, esculturas que contam a história das revoluções, das guerras, das civilizações astecas, maias, dos grandes líderes políticos e religiosos de um país que respira cultura. O acesso aos museus sempre é pago. Com carteira de estudante é possível obter desconto e algumas vezes acesso livre (se usar uma camisa do América local também ). Deixamos de lado as visitas e fomos a um parque para almoçar. Aliás, a cidade tem muitos parques, grandes e bem arborizados, onde as pessoas param para descansar ou aproveitam para praticar esportes nos fins de semana.

Nosso almoço foi à base de sanduíches, refrigerante, chimarrão e água. Optamos pelos sanduíches por alguns motivos: primeiro porque a comida mexicana é recheada de pimenta. Não há condições de alguém ‘normal’ consumir aquela comida... Outro motivo é que é mais prático. Pode-se parar em qualquer lugar e a qualquer hora para almoçar, até mesmo no topo de uma pirâmide... Além disso, com a economia que fizemos comprando no supermercado sobrou alguma coisa para adquirirmos umas lembranças.

Depois de um breve descanso continuamos o ‘andamento’... Para não perder o costume, entramos em mais um museu. Desta vez foi o do Exército. Com entrada gratuita, tivemos a oportunidade de ver, sob os olhos atentos de alguns soldados, as armas antigas utilizadas pelo exército mexicano. Rifles, pistolas, armas pesadas, fardamento...Tudo muito bem conservado e guardado. O próximo destino seria a Torre Latino-americana. Como o acesso era cobrado, decidimos que apenas um de nós subiria para fazer as fotos. A missão coube à Karla, que cumpriu o objetivo e fez belas fotos.

No caminho de volta ao albergue, uma surpresa. Centenas de estudantes vestidos de preto faziam uma manifestação numa das praças da cidade. Com um carro de som e falando palavras de ordem, professores, líderes políticos, estudantes se revezavam ao microfone criticando o sistema de ensino do país. Uma das críticas principais dizia respeito ao novo modelo de acesso ao ensino superior, que, segundo alguns manifestantes, teria sido motivo de suicídio de diversos estudantes no ano passado. Nossa equipe produziu uma entrevista com um dos participantes.

Depois disso fomos a uma panificadora comprar pães para o nosso jantar, que seria complementado com uma mistura de lingüiça, salsicha, molho, e outros temperos, tudo comprado no supermercado. Por motivos de economia de palavras, não estou registrando aqui todas as paradinhas nas barracas de artesanato para compra de lembranças.

À noite, depois do jantar, alguns aproveitaram para checar seus e-mails. Isso era possível no albergue, mediante pagamento de 20 pesos a hora. No quarto 209 terminava mais um dia, com os seis integrantes da equipe conferindo suas aquisições e relembrando dos fatos interessantes do dia.

Na quinta-feira, dia 4, nossa programação foi bem light. Não tínhamos nada de especial agendado. Nos principais jornais da cidade, estava estampado na capa a manifestação dos estudantes. Decidimos conhecer a feira de artesanato Cidade do México, conhecida como La Cidadela. Nos deslocamos até lá de metrô. No metrô, verificamos algo interessante. A cada parada nas estações, os vendedores ambulantes se revezam. Aparece de tudo, desde deficientes visuais cantando ao som de um play-back, crianças entoando canções da região, artistas que se deitam sobre cacos de vidro, vendedores de isqueiros, CDs, balas, chicletes, livros, etc...

Na feira da Cidadela há uma infinidade de artesanatos, por todos os preços. Quem quer gastar pouco pode levar pequenas lembranças a partir de cinco pesos (R$ 1,50) como chaveiros, ímãs de geladeira, bijuterias. Se quiser gastar um pouco mais, há pratos com o calendário asteca a 50 pesos (R$ 15,00) ponchos a 150 pesos, sombreros a 25 ou 30 pesos. O segredo, na hora de comprar, é a negociação. Quase sempre o preço inicial é reduzido e, dependendo da quantidade adquirida, pode sair pela metade do preço. Nossa equipe conseguiu comprar muitas lembranças. No entanto, não há dúvida de que o preço para estrangeiros não é o mesmo cobrado aos mexicanos e também verificamos muita variação de preços de um dia para outro.

Saímos por alguns momentos da feira para nos acomodarmos na praça em frente e desembrulhar nosso almoço. O cardápio foi sanduíches, chimarrão, coca-cola e um líquido verde com gosto de suco de limão comprado em uma barraquinha próxima da praça.

Depois de muito olhar, pesquisar, perguntar o preço, tomamos o caminho de volta ao albergue. Decidimos ir caminhando. No trajeto encontramos um misto de supermercado, verdureira e açougue. Os preços até que eram acessíveis e há muita variedade de frutas e verduras. O que mais chamou a atenção foi a falta de higiene no manuseio das carnes. Funcionários circulavam pelos corredores com peças inteiras de carne de porco sobre os ombros; mesas recheadas de coelhos já sem o couro; frangos e outras aves enfileirados nos balcões. Decidimos levar frutas, para variar nosso jantar.

Na sexta-feira, acordamos mais cedo. Era dia de conhecer as pirâmides do Sol e da Lua. Para chegar lá participamos de uma mini-excursão, com uma van contratada diretamente com o pessoal do Albergue, ao preço de 150 pesos por pessoa. Para chegar às pirâmides, há um trajeto de mais ou menos uma hora. No caminho, conhecemos a Basílica de Guadalupe. Segundo nosso guia, a construção da basílica se deu em função de uma suposta aparição da santa para um grupo de pessoas. No local, existe a igreja antiga, que afunda cerca de um centímetro ao ano, e mais duas construções novas, feitas para dar conta do crescente fluxo de turistas que visitam o local.

Em Teothiuacan, local das pirâmides, há uma movimentação constante de turistas. Trata-se de uma pequena cidade, onde a civilização maia construiu um conjunto de pirâmides. Duas delas, a do Sol (com altura de 66 metros) e a da Lua (45 metros), serviam exclusivamente como altar de adoração aos deuses. As demais, menores, tinham em seu topo uma área plana, onde eram construídas as casas dos integrantes da comunidade com maior poder. Pelo tamanho dos intervalos nos degraus das pirâmides, supõe-se que era um povo com estatura elevada.

Existe mais de uma versão para explicar o desaparecimento desse povo. A mais realista se refere à invasão espanhola, povo que dispunha de mais tecnologia e que teria dizimado toda aquela geração. Aproveitamos a beleza da vista no topo da pirâmide do sol para um intervalo de almoço. No cardápio, sanduíches, água, chimarrão, bolachas.... Aproveitamos o local e também fizemos uma entrevista gravada com o Erick, guia que acompanhava a equipe.

No caminho de volta visitamos uma feira que fica na entrada das Pirâmides. O preço não compensava muito. Mesmo assim, conseguimos adquirir algumas camisetas a um bom preço. Ainda retornando, paramos em uma fábrica de artesanato e tequila. Um funcionário bem disposto nos mostrou o processo de fabricação das peças de pedra, a utilização de uma planta de onde eles extraem uma bebida, papel para escrita, uma espécie de sisal para costura e ainda aproveitam a ponta do broto como agulha. Nesse local finalmente pudemos experimentar a tequila. O processo é simpático, mas deixa qualquer um de cara feia. Coloca-se em cima da mão um pouco de sal, a mesma mão segura o copinho com a tequila e na outra mão um gomo de limão. Leva-se à boca primeiro o sal, depois o limão e, finalmente, a tequila e...arriba México!!!

Depois disso retornamos ao albergue. Percebemos no caminho de volta muitos morros ocupados com pequenas casinhas. Dava a impressão de serem favelas. Chegamos por volta das 16 horas.

Nem parece sábado. Para nós, turistas, dá a impressão de que todos os dias são iguais. Na cidade, percebe-se menos movimento pelas ruas. Em compensação, os parques estão repletos de pessoas caminhando, fazendo ginástica, jogando futebol. Para nós a manhã estava reservada para irmos até Chochiminko visitar as famosas gôndolas mexicanas. Para chegar lá pegamos o metrô e fizemos uma conexão com o trem ligeiro (que de ligeiro só tem o nome...).

O local fica na periferia e parece ser um lado pobre da cidade. Há dezenas de barcaças estacionadas. Com 150 pesos fechamos um roteiro menor que o habitual. No caminho belas paisagens e a população ribeirinha vive às custas do turismo. Eles vendem de tudo no caminho. Há a possibilidade de almoçar, comprar artesanato local, ouvir os mariates, num passeio que dura aproximadamente 40 minutos. Os mexicanos costumam se reunir em grupos e passam o dia passeando e ouvindo boa música. Tem até serviço de coleta de lixo e policiamento, tudo de barco. A água do rio não é muito limpa, mas pelo menos não há mau cheiro.

Depois disso fomos ao parque Koyuacan, onde existe um viveiro de mudas de árvores e diversos esquilos passeiam livremente. Apesar das placas proibindo alimentos no parque, optamos pelo lugar para almoçar. O prato do dia era...sanduíches.

Depois do almoço visitamos uma feira de artesanato do povo local. Começava a chover. Mesmo assim, um pouco andando e um pouco correndo, conseguimos chegar até o Museu da Frida Khalo. Lá encontramos alguns turistas brasileiros. O museu conta um pouco da história de Frida Khalo e de Diego Rivera, que inclusive foi tema de um filme que passou no Brasil. Tudo muito interessante, mas àquelas alturas todos estavam meio saturados de museu... Na volta, tomamos um banho involuntário por conta da forte chuva.

O aperto maior do dia ainda estava reservado para a volta. Em virtude das apresentações que aconteciam na praça do Centro Histórico, o policiamento local fechou algumas saídas do metrô. Foi um sufoco sair de lá. Andávamos ao passo de pingüim e, depois de uma meia hora conseguimos respirar ar puro... Fomos direto para a panificadora providenciar comida para nosso jantar. O sistema de compra nas panificadoras do México é um pouco diferente. Ao invés de um balcão com atendente. as pessoas podem se servir com uma bandeja e depois passam no caixa para pagar. Ainda antes de chegar ao albergue fomos à loja das fotos pegar alguns filmes que havíamos deixado para revelar. A porta já estava fechada, mas como a Karla era uma cliente “especial”, fomos atendidos com exclusividade e conseguimos pegar as fotos.

Domingo, 7 de setembro. Era dia de conhecer o Museu de Antropologia. Fomos de metrô até as proximidades do museu. Caminhamos uns 5 quilômetros. Depois de algumas voltas (chegamos a andar em círculos) tudo por conta das desinformações do povo local. conseguimos chegar, mas foi impossível entrar. Havia uma fila quilométrica para entrar no museu. É que aos domingos os mexicanos não pagam. Imaginem, uma cidade com 25 milhões de habitantes...

Decidimos visitar o Parque Chapultepec com seu Castilho. No acesso, uma feira completa, com artesanato, comida, shows artísticos. Almoçamos por ali mesmo. Desembrulhamos nossos já famosos sanduíches e compramos um suco de laranja numa das barracas. Depois disso subimos até o Castilho. Por não concordar com a cobrança de ingresso aos estrangeiros, não entrei. O restante da turma entrou, gostou, mas disseram que estava muito lotado e era difícil até se movimentar lá dentro. Saímos dali e fomos ao Museu de Belas Artes comprar os ingressos para assistir o Ballet Mexicano, à noite. Era hora de voltar. Fizemos o trajeto de volta de metrô e, chegando na praça central assistimos a um show em comemoração aos 30 anos de morte de Salvador Allende. Muita música típica, sob os aplausos e manifestações do povo local. A praça estava tomada. Devia ter ali mais de mil pessoas que assistiam, vendiam, conversavam, dançavam.

Todos muito bem arrumados fomos a pé até o Museu Belas Artes para assistir ao Ballet Mexicano. O teatro é grandioso e, num primeiro momento, lembra o cenário dos filmes americanos. Nos colocamos no terceiro piso, na primeira fileira de cadeiras. O receio inicial era de que aquilo tudo pudesse cair, mas foi tranqüilo. As apresentações foram excelentes. No total, o show se dividiu em nove grupos se apresentando.

Depois do show, com duas horas de duração, fomos jantar no restaurante Sanborns. Pegamos o cardápio e escolhemos alguns pratos. Só para ter uma idéia, um filé mignon custou 80 pesos (R$ 24,00, mais ou menos). Comemos também um prato típico mexicano, com muita pimenta, e que deve ter causado alguns efeitos indesejáveis no outro dia... O gosto da comida é bom. A quantidade não muito. A sobremesa foi o ponto alto. Bolo de chocolate. No final, a pequena conta: 600 pesos (já incluídos os 10% do garçom) (R$ 180,00). Para um restaurante, até que estava dentro do esperado. Valeu a pena. Retornamos andando pelas tranqüilas ruas e chegamos ao albergue por volta da meia-noite. Foi uma noite divertida e só na volta é que lembramos que era dia da Independência do Brasil. Pelo menos cantamos algumas estrofes do hino... Termina aí a primeira semana. Ainda tínhamos alguns dias pela frente, mas pelo volume de atividades que já havíamos realizado já daria para assessorar outras pessoas que quisessem viajar ao México. A esta altura já estávamos até dando informações aos mexicanos no metrô...

Uma segunda-feira para descansar um pouco da correria. Eu, Karla e Michelle retornamos à Cidadela para adquirir mais alguns presentes. Tivemos que fazer mágica para entrar e sair do metrô, tamanho era o movimento naquela lata de sardinhas... Estava muito lotado. Nessas horas, os mexicanos tentam se aproveitar das mulheres... Depois de muito sufoco conseguimos sair...

Já passava do meio-dia quando chegamos. Como era um dia sem muitos compromissos (o que menos tínhamos eram compromissos...) aproveitei a promoção do albergue e naveguei uma hora na Internet, para colocar a correspondência com o Brasil em dia. Mesmo com uma hora, só deu para responder os e-mails (eram muitos mesmo e para cada um eu contava uma história). Para não perder o costume, à tarde saímos para caminhar... Visitamos mais algumas feiras e fomos ao supermercado. Na volta, jantamos macarrão com molho, que era a especialidade do Ramiro...Tivemos que compartilhar a cozinha do albergue com estudantes alemãs. Contamos e ouvimos um pouco de piadas e descemos para o quarto. Antes de dormir ainda ficamos conversando até depois da meia-noite.

Terça-feira. Primeira providência do dia: ir ao banco trocar dinheiro (nesse dia o câmbio já estava bem melhor: 10,90). No caminho aproveitamos para pegar as fotos. Seguimos de metrô em direção ao escritório do Banco do Brasil no México, conforme contato feito pela Mariça. Chegamos no local e fomos recebidos pelo gerente, Sr. Rômulo. Uma pessoa muito atenciosa, que nos recebeu, conversou por mais de uma hora e explicou os objetivos e as propostas do banco no México. Contou muitas histórias sobre o pouco tempo que vive naquele País. A mais interessante foi a forma como conseguiu tirar a carteira de motorista, sem ao menos comprovar que sabia dirigir. Também nos alertou sobre os perigos que existem na cidade, principalmente em Zócolo, local onde estávamos morando naquelas duas semanas... Na saída, ganhamos duas garrafas de água geladinhas e saímos com a impressão de que o verdadeiro embaixador do Brasil estava ali....

Nosso próximo destino era o Museu de Antropologia... Antes disso paramos para almoçar nossos sanduíches com água e coca-cola... Paramos numa praça onde um grupo de acrobatas se apresentava numa espécie de chapéu mexicano...

O Museu é muito grande. Reservamos a tarde para a visita, mas, se fôssemos olhar com cuidado todos os detalhes, era necessário pelo menos uns dois dias de visita. Não se pode negar que, de tanto ver artesanato, ficamos um pouco insensíveis com objetos raros e importantes dentro do contexto histórico. O museu conta a história das civilizações que habitaram o México de forma bem dividida. Há espaços bem delimitados para cada fase da história, tudo muito bem acompanhado de gráficos, telas de computador que oferecem possibilidade de interação, projetores que passam filmes educativos a toda hora e, muitos seguranças para manter preservadas as peças.

Um cuidado especial do museu é o de deixar demarcado todas as peças que são retiradas para restauração. No local, fica uma placa que indica a peça que falta, acompanhada de uma foto.

Na volta, caminhando, aproveitamos para visitar mais algumas feiras de artesanato. Acabamos parando numa lanchonete do McDonalds, de onde saiu nossa melhor refeição (pelo menos para o meu gosto) que nos fez relembrar do Brasil... Um fato que me entristeceu um pouco: crianças (deviam ter uns quatro ou cinco anos de idade) se revezando para vender balas e outras guloseimas. Detalhe: na saída percebi os pais dessas crianças esperando no lado de fora e recebendo o dinheiro da venda...

Na quarta-feira passamos nosso último dia no México visitando feiras e fazendo as últimas aquisições. Os jornais do dia davam destaque para os conflitos em Cancún, resultado dos protestos contra a reunião da OMC. Na parte da manhã ainda nos deslocamos até a UNAM (Universidade Autônoma do México). O campus é muito grande. Imaginem que estudam lá aproximadamente 250 mil alunos. Os trajetos entre um centro de estudos e outro são feitos por linhas especiais de ônibus (gratuitos). Conseguimos conversar com algumas pessoas, mas não tivemos uma recepção formal. Foi mais ou menos na cara e na coragem... Por fim acabamos pegando alguns fôlderes com os endereços na Internet para posterior pesquisa. À tarde, fomos entrevistados no albergue por uma repórter do jornal El Universal a respeito dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos. O dia não estava muito bom, no meu ponto de vista. Talvez fosse porque já estava sentindo saudades do pessoal, do nosso passeio, dos bons momentos que passamos nos 10 dias de viagem...

Como conhecimento adquirido, não se pode negar que uma viagem assim acrescenta muito na vida de cada um. Para mim, e acho que para todos, foi uma viagem inesquecível. O ponto alto foi a amizade, o companheirismo de meia dúzia de pessoas antes desconhecidas uma das outras. Em 10 dias, nos tornamos muito amigos, a ponto de lembrar de cada um sempre que vou comer um churrasco, ou caminhar pelas ruas, ou quando entro em um açougue, quando tomo chimarrão.

Valeu a pena!

Adilson Luiz Girardi

Jornalista formado em dezembro

de 2002 pelo IELUSC/Joinville

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