O programa de distribuição de preservativos em escolas públicas do Ministério da Saúde está em fase de teste em apenas quatro cidades brasileiras, Curitiba, São Paulo, São José do Rio Preto (SP) e Rio Branco (AC), mas já está provocando polêmica em Joinville. No centro da discussão estão as críticas do vereador do Partido Progressista Kennedy Nunes ao projeto. Em vários programas de rádio e televisão, e inclusive em sua coluna no Jornal ANotícia, ele acusa o estado de interferir na família.
A desempregada Juliana, nome fictício, conta que a iniciativa do governo federal chegou tarde em seu caso. Hoje com 20 anos, um filho e um aborto aos 14, considera-se mais uma vítima da falta de apoio e de orientação familiar. “Meus pais não queriam discutir o assunto, eram fechados, só descobriram que eu não era mais virgem quando fiquei grávida da segunda vez e não tinha dinheiro pra tirar”, explica. A jovem pertence a uma família de classe média, com pai e mãe empregados. A vergonha de comprar preservativos por parte do namorado e a falta de orientação foram cruciais para o não-uso da camisinha. Como também tinha vergonha de ir à farmácia, e acreditando que não engravidaria logo na primeira vez, Juliana se “descuidou”. “Se eu tivesse uma camisinha na bolsa com certeza teria usado, mas não tinha. Não queria comprar, nem pedir no posto de saúde por vergonha. Também não planejava transar, sabe?”. Desesperada e com medo da reação dos pais, acreditou que a única saída era o aborto. Com ajuda de outra menor, também grávida e da mesma idade, comprou duas doses de um remédio com efeito abortivo. Ambas tomaram e interromperam a gestação.
Na segunda gravidez já possuía conhecimento e usava preservativo. Mas no momento da relação ela e o parceiro não tinham a camisinha e decidiram transar mesmo assim. Juliana conta que também escapou por pouco de pegar uma doença sexualmente transmissível, DST, pois meses depois descobriu que o ex-parceiro estava infectado. Depois disso, a garota jura que nunca mais teve relações sem preservativo. Hoje cria o filho de quatro anos e mora com os pais que se arrependem da omissão, mas comemoram o fato de a filha não ter contraído nenhuma doença grave. “Poderia ter sido pior, por isso sou favorável à distribuição de preservativos nas escolas. Mas acho que deve existir uma orientação para os jovens e uma campanha direcionada aos pais”, analisa a mãe.
O projeto do governo federal tem o apoio também do pastor da Igreja Luterana Carlos Musskopf. Ele acha que o jovem deve ter orientação e a escola pode ser uma auxiliadora nesse processo. “Muitos têm vergonha de comprar na farmácia ou pedirem aos pais uma orientação”, explica. “Temos de deixar o preconceito de lado e orientar nossos jovens para que tenham relações saudáveis”, acrescenta. Ele acredita que a distribuição não aumentará a libido dos adolescentes argumentando que o jovem não transará apenas pelo fato de ter preservativos no bolso.
O vereador do Partido dos Trabalhadores Adilson Mariano diz que o colega Kennedy, do PP, está equivocado. “Ele está propagando uma informação parcial do projeto e faz parecer que o governo vai obrigar os jovens a receberem o preservativo”, sustenta. Mariano diz ainda que não existe nenhum sinal de que governo venha a implantar o projeto na cidade. A página virtual do Ministério da Saúde informa que os municípios interessados têm que se inscrever no programa.
Joinville é hoje a 23ª colocada no ranking de número de casos de Aids, o principal alvo da campanha, e sexta no estado. São 905 infectados com o vírus HIV registrados na cidade. A Gerência Regional de Educação e Inovação Rede Estadual de Joinville informou que não existe nenhum sinal de implantação do programa no município, e se implantado, campanhas de orientação e conscientização acompanhariam o projeto. O órgão esclareceu que “Joinville não está na rota das cidades que distribuirão preservativos nas escolas. Até porque dispomos deste atendimento na rede de saúde local. Nas escolas públicas estaduais continuará a educação preventiva sem perder de vista a importante sintonia com os órgãos de saúde pública e com a realidade”.
A socióloga Valdete Daufembeck Niehues diz que a iniciativa será válida apenas se for uma necessidade da sociedade. A psicóloga Márcia Amaral analisa a necessidade de observar a necessidade do local para implantar um programa desse tipo. Ela adverte que a distribuição, mesmo com orientação, pode levar o adolescente à sexualidade precoce.