É preciso revolucionar a linguagem. Os jornalistas ainda falam como advogados e médicos. Essa é a opinião do escritor de Jornalismo Brasileiro, José Marques de Melo. A entrevista aconteceu ontem, 20 de agosto, às 16h30m na livraria Midas. Estava marcada para as 15h30m, mas aconteceu uma hora depois devido ao cancelamento do vôo de Melo em São Paulo.
Entrevista Pingue-Pongue
P – O jornalismo sofreu várias mudanças ao longo dos anos. Qual sua visão sobre o antigo jornalismo e o atual? Quais as atividades que devem ser resgatadas?
Melo – Cada época é sempre melhor que a anterior. A diferença que temos hoje diz respeito à facilidade de acesso às faculdades e estudos de Jornalismo. Mas as faculdades ainda pecam com relação à falta de análise. Temos de ir mais a fundo nas notícias. É isso que o nosso leitor vai buscar em um jornal.
P – Você defende o modelo americano adotado no Brasil? Existe realmente um jornalismo brasileiro?
Melo – As escolas sempre supervalorizaram o modelo americano. Não defendo romper com esse método até porque essa é a cara do jornalismo mundial. Quanto ao jornalismo brasileiro, ele tem uma identidade particular. Durante esses 10 anos de pesquisa, constatei diversas singularidades adotadas no Brasil que não permeiam outros países. Evidentemente que não devemos descartar os referenciais. Devemos ser cosmopolitas, nunca limitadores!
P – O jornal diário é ainda provinciano. Quais as estratégias para conquistar um maior número de leitores?
Melo – Revolucionar a linguagem adotada. Os jornalistas ainda falam como advogados e médicos. Temos que recuperar a linguagem do povo. Não podemos aceitar todas as normas que vêm da academia. Atualmente, o conteúdo não interessa para o povo. Os jornais só cobrem os centros de poder, não o cotidiano da sociedade. Quando aparecem, estão nas páginas policiais.
P – Qual sua visão sobre a figura dominante da mulher na profissão?
Melo – A invasão do universo feminino começou durante o período militar como uma estratégia de colocar um representante do “sexo frágil” para entrevistar os brutamontes da época. As mulheres estão desempenhando seu papel. Mas, pouquíssimas ainda galgam cargos de chefia.
P – Você é contra ou a favor do diploma para o exercício da profissão?
Melo – Sou a favor de uma sociedade não corporativista. O método seletivo deveria ser a competência, não o papel do diploma. Defendo a abolição de todos os diplomas profissionais porque acredito em aprendizagem empírica. Ter conhecimento e formação, mas não necessidade de diploma.
P – E quanto à questão ética?
Melo – Devemos implantar uma cidadania ética porque os princípios éticos são universais. Têm singularidades dependendo da profissão, mas o problema da ética não está no Jornalismo, está na própria sociedade.
P – Como o senhor avalia as universidades brasileiras? E qual sua posição sobre as cotas reservadas para negros?
Melo – Defendo universidade paga para todos, já que não podem ser gratuitas para todos. As gratuitas são ocupadas por acadêmicos de famílias com boas condições financeiras, enquanto sobra para os carentes pagar para estudar em escolas particulares. Não faz sentido. Quanto às cotas para negros, sou totalmente contra. Acho uma humilhação. As vagas para faculdades têm que ser ocupadas por pessoas com condições reais de entrar, ou seja, quem tiver mérito. Nos Estados Unidos já fizeram o teste com o sistema de cotas, mas não deu certo.
P – Quando um acadêmico ou jornalista está preparado para opinar?
Melo – Não existe um período. O jornalismo opinativo é um ramo abrangente e tão importante quanto os outros. Evidente que para incluir uma opinião, é necessário saber informar bem e ter noção clara sobre a dimensão do processo. Fazer um lead, por mais fácil que pareça, é ainda a parte mais delicada do texto.