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Matéria 7318, publicada em 21/10/2008.


O 4º Encontro de Professores de Jornalismo do Paraná e 2º de Santa Catarina ocorre dias 17 e 18 de outubro, no anfiteatro do Bom Jesus/Ielusc, unidade centro. O evento conta com palestra do jornalista Carlos Castilho, sobre o tema “O futuro do jornalismo e o jornalismo do futuro”, mesa-redonda discutindo “Os novos desafios à pesquisa, ensino e extensão na perspectiva do jornalismo do futuro”, entre outros temas e atividades. Confira a cobertura.

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Professor do Ielusc criticou teorias contemporâneas ::Tuane Roldão “Os desafios esboçados pela convergência digital são a manifestação aparente de um problema essencial: fruto da modernidade e do iluminismo, o jornalismo experimenta hoje a crise própria desses modos de pensar”, refletia Jacques Mick diante dos participantes do Encontro de Professores. A conferência “Os novos desafios à pesquisa, ao ensino e à extensão na perspectiva do jornalismo do futuro”, do professor de redação do Bom Jesus/Ielusc, foi debatida em mesa-redonda, a partir das 9h37 da manhã de hoje.

Durante os primeiros 27 minutos, de quase duas horas e meia de discussão intensa, Jacques argumentou que para avançar nas reflexões sobre esse tema “é preciso abandonar o modo de pensar dominante no campo, que é reverente à tradição e toma a experiência profissional como critério único de verdade”. Se o jornalismo for pensado como um fazer, suas potencialidades ficam limitadas. Para evitar isso, ele defende a importância de concebê-lo como uma forma de conhecimento do presente, o que intima os intelectuais da área a enfrentar os problemas teóricos do campo.

Para Jacques, as metamorfoses da convergência digital impõem o desafio de construir novas linguagens. E a dificuldade de pensá-las está relacionada ao fato de que quando são discutidas no jornalismo, discute-se o que se pode chamar de linguagens encráticas, já legitimadas na área pelo campo. Para que se possa avançar na direção de formular outras linguagens para o contexto da convergência digital, o indivíduo precisa pensar melhor teoricamente o que é o jornalismo e em como essas linguagens podem ser resignificadas para produção de outras formas ou de outros modos de dizer no futuro. Isso possibilita ter mais autonomia em relação à tradição de pragmatismo e à valorização do empirismo, que é uma característica estrutural do campo.

O professor também comparou o atual ensino na área com o de 20 anos atrás – quando Jacques começou sua graduação em Jornalismo –, listando os problemas tidos e as soluções apontadas à época, quando o lócus em que a formação se dava era ainda mais elitizado do que agora. Em duas décadas, o número de cursos e egressos aumentou consideravelmente. Ao mesmo tempo, Jacques considera que o problema central continua: “a ausência de formulações teóricas consistentes e, relacionado a isso, o lugar visivelmente secundário que a teoria continua a ocupar no campo”.

Por exemplo, a pouca contestação às teorizações sobre a comunicação e à lógica do texto jornalístico, trabalhadas por Adelmo Genro Filho, cujas concepções podem ser tensionadas ao se estabelecer aproximações teóricas, como uma das apontadas por Daisi Vogel, de que a escrita jornalística sofreria transformações caso a ficção fosse considerada parte de todo discurso e não critério de verdade – associação tradicional do senso comum.

Para Jacques, “a defesa do jornalismo como objeto específico do pensamento confundiu-se com a criação de um campo acadêmico específico para o jornalismo”, cuja produção teórica ainda é muito pequena. Tal posição prejudica o exercício da interdisciplinaridade, da reflexão, e prende o jornalismo a uma normatividade, uma forma de como se deve fazer, que o torna repetitivo e limitado. “Onde está a especificidade do discurso jornalístico? No singular, como queria Adelmo, ou na própria linguagem e, como tal, no poder?”

Outra incógnita levantada por Jacques é como será o padrão de financiamento do jornalismo no futuro. Entretanto, ele insiste que a questão principal é como o discurso jornalístico irá ser adaptado em cada nova mídia da convergência digital. “Como nós, nossos alunos terão a responsabilidade profissional de formular respostas a esse desafio”.

Após o discurso de Jacques, que a mesa-redonda considerou provocativo ao campo jornalístico, Maria José Baldessar, a “Zeca”, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, começou abordando a dicotomia entre teoria e prática. Ela lembrou o falecido educador Paulo Freire ao afirmar que “a prática é a teoria consolidada e a teoria é o resultado da prática”.

Mencionando a palestra de abertura da noite anterior, do jornalista Carlos Castilhos, a professora reiterou que se deve pensar em quem é o público e em agregar valor não à notícia, mas ao fazer cotidiano, porque há perguntas de menos e modelos demais, além, claro, da parte profissional que ainda pressupõe que o jornalismo vem de regras pré-estabelecidas.

Quando algum de seus alunos comenta que pretende participar do programa de treinamento da Folha de S. Paulo, Zeca logo alerta: “Vocês não precisam fazer o trainee para aprender a pensar, contextualizar, e sim para fazer a manchete que a Folha quer que vocês façam”. Segundo Zeca, só o laboratório em si não resolve os problemas teóricos. E, para trabalhar isso, é fundamental a interdisciplinaridade. “O jornalismo pode sim ser uma área específica, mas ele não vive sozinho, ele busca conhecimentos nas outras áreas”.

O debatedor seguinte, Tomás Barreiros, professor da Universidade Positivo, avaliou que o jornalismo está passando por um momento de transição terrível. “Nenhum de nós, professores, alunos ou jornalistas está confortável na cadeira em que está”. Para ilustrar essa situação, Tomás fez uma comparação do jornalista com outros profissionais, como o advogado e o médico, que ele considera não estarem diante do grande dilema de Shakespeare: “Ser ou não ser, eis a questão”.

Em seguida, Tomás esclareceu que isso se dá porque essa época de transição tem relação direta com a difusão da informação, lembrando que os grandes progressos da humanidade estão ligados a esse processo. Pensando no avanço tecnológico dessa difusão, Tomás observa que é praticamente impossível ter certeza do que virá daqui a 30 anos. “Eu, particularmente, acho que o mais provável é um grande colapso, porque no progresso tecnológico, nós já sabemos que o sistema capitalista não se sustenta com esse atual poder de produção. Pode ser que daqui a 50 anos os que estiverem aqui nem estejam discutindo isso”.

Como exemplo da expansão pela qual a troca de informação passa, Tomás pontuou a presença virtual, a noção de lugar, o tradutor automático e a wireless fidelity (rede de Internet sem fio), entre outras possibilidades que a tecnologia proporciona. Diante disso, é preciso indagar como o jornalismo se posiciona.

Segundo o professor, uma faculdade de jornalismo apenas reproduz os modelos de mercado, com o objetivo de dar aos alunos aquilo que existe lá fora. O que se pede é ensinar a fazer como se está fazendo, é dar conhecimento das teorias que existem, mas é preciso fazer com que estas sejam pensadas e se reflitam na produção. “A idéia devia ser formar o mercado, dizer como o mercado deve fazer”.

Depois de Tomás, o microfone foi passado à mão direita de Elaine Tavares que, como representante do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, iniciou destacando a discussão sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Para ela, “estamos sendo atacados como trabalhadores”.

Com um bindi preto no meio da testa, Elaine prometeu cometer heresias e fazer previsões durante a manhã. Primeiro, ela discordou de Tomás, declarando que não são tempos “terríveis” pelos quais o jornalismo passa. “São tempos belíssimos”, disse, “repletos de possibilidades de transformação”.

Segundo Elaine, o problema é o que fazer com isso que se chama jornalismo dentro de uma realidade em que qualquer pessoa pode difundir dados. Para Elaine, a possibilidade de interação que a população ganha em novas mídias cria “amebas que reproduzem a informação”.

Elaine ainda recordou que Adelmo pôs o jornalismo dentro de uma perspectiva marxista e que não dá para produzir teoria sem levar em consideração que vivemos no capitalismo e, principalmente, na periferia do capitalismo, expostos a uma colonização do pensamento. Assim, ela propôs que os grupos de estudo encontrem e formulem fundamentos teórico-metodológicos para pensar o jornalismo desde a periferia.

Em seguida, Elaine questionou quem é o leitor que desfruta de várias tecnologias, das quais falava Carlos Castilhos na noite anterior. Elaine pergunta se é o mesmo que assiste ao Jornal Nacional com “o William Bonner e aquela babaca da mulher dele”. Para Elaine, a “massa empobrecida” vai continuar tendo apenas a televisão para se informar e, dessa forma, permanecer produzindo a mais-valia ideológica do capitalismo. “Somos engravidados diariamente pela comunicação oral”, reafirma.

Para que o jornalista não lance “informações ao vento como um bocó”, Elaine defende que a academia o torne capaz de analisar as notícias, “puxar os fios, criar a colcha e a atmosfera do fato”. Caso contrário, ela prevê que “o jornalismo se acaba”. Por fim, Elaine mandou um recado aos colegas de profissão: “Hello, despertem e leiam Adelmo”.

Depois dos discursos de cada um dos presentes na mesa-redonda, esta se abriu às perguntas da platéia e alguns pontos da discussão foram retomados. O mediador do debate, Sérgio Luiz Gadini, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, não pôde exercer a função devido a uma crise de rinite, e foi substituído pelo professor Rogério Christofoletti, da Universidade do Vale do Itajaí.voltar

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