A defesa havia iniciado com um clima de descontração que mudou para tensão quando as arguições da banca avaliadora começaram. A acadêmica de Publicidade e Propaganda Bianca Gregório preferiu uma apresentação de menos de 20 minutos, que foi assistida por uma platéia de três pessoas na tarde de sexta-feira, 27 de março. Orientada por Álvaro Dias, Bianca e sua monografia “Peças que contam história: moda/brechó, biblioteca de estilos” concentraram-se em analisar brechós e seus consumidores, entrelaçando a pesquisa com a história da moda e com teóricos como Roland Barthes e Michel Foucault. Para a avaliadora Valdete Niehues, o trabalho foi insuficiente na ligação do tema com a comunicação e “frágil na questão teórica”. Valdete e Lígia Zuculoto, também integrante da banca, atribuíram nota 7,7 à monografia e sugeriram que a autora dê continuidade à pesquisa.
Segundo Bianca, o principal motivo de consumo nos brechós vem de uma tentativa de construir uma nova identidade estilística, “deixando se escravizar menos pela moda”. Ainda há aqueles que procuram apenas um acessório ou estão em busca de peças para compor fantasias. Em pesquisa de campo com cinco lojas de roupas usadas, a acadêmica concluiu que os consumidores ainda não são numerosos e que o mito de que os brechós vendem peças sujas, mofadas e velhas ainda persiste.
A acadêmica também tentou evidenciar o papel das roupas na construção e na identificação da personalidade, aspecto que, segundo Valdete, não foi abordado de forma conclusiva: “Que identidade é essa sem respaldo teórico?”, ressaltou. Para a avaliadora, a questão econômica e a forma como os brechós se sustentam deveriam ser abordados pela monografia, que se limitou a utilizar os dados da pesquisa de campo. Além disso, a arguidora acredita que as informações foram mal aproveitadas: “Ela diz que entrevistou 80 pessoas, depois descartou 20, mas só aparecem cinco”. Bianca se defendeu contando que esperava apontamentos de Valdete na área da sociologia, mas que esse não era o foco de seu trabalho.
Sobre o título da monografia, Lígia declarou: “Fica bonito, mas não adianta ficar bonito na monografia. Tem que explicar”. A avaliadora acredita que a pesquisa não tinha relação com a expressão “biblioteca de estilos”, assim como não continha um histórico da moda, apenas “algumas pinceladas”. Porém, Lígia acredita que o assunto escolhido foi acertado e importante como pesquisa sobre publicidade, uma vez que analisa a construção de imagens. Valdete concorda, mas salienta que a acadêmica não deu conta de explicar como a moda comunica: “A relevância do tema existiria se ela relacionasse com comunicação”.
Bianca, que contou ser consumidora de brechós, comentou que novas dúvidas surgiram ao concluir a monografia - como o motivo de os homens raramente consumirem em lojas de roupas usadas. Por isso, ela pretende seguir a sugestão das avaliadoras e dar continuidade à pesquisa. Depois de formada, a acadêmica não irá trabalhar com moda, que se caracteriza apenas como um hobbie.