Enquanto o padre recita palavras sagradas para expulsar o mal, a menina se contorce, grunhe e geme amarrada à cama. Essa breve descrição se refere a uma cena analisada no trabalho “Cinema: um mito exorcizado”. Um dos objetos escolhido por Gustavo Xavier, estudante de publicidade e propaganda, foi o filme “O exorcista”, dirigido por William Friedkin. Para construir a pesquisa, o monografando seguiu a linha semiológica e analisou o discurso das personagens. Uma das críticas, proferidas durante a defesa do dia 27 de março, na sala c-21, aponta deficiências provenientes da escolha dos teóricos. Se Gustavo tivesse escolhido a semiótica, não teria excluído elementos da linguagem visual de sua pesquisa — os gestos e grunhidos, por exemplo — e nem ficaria tão apegado à fala, que não encerra o universo de significação do filme. A monografia recebeu nota 7,5. O trabalho foi orientado pela professora Márcia Amaral.
O semiótico e ex-professor do Bom Jesus/Ielusc Álvaro Dias criticou a abordagem semiológica empregada pelo aluno na pesquisa, baseada no autor Roland Barthes. Para o professor, a característica binária da linha teórica restringiu o olhar do pesquisador sobre o objeto. Segundo ele, a semiologia estuda a palavra e seu significado, excluindo a forma ou o signo, na linguagem semiótica. Esta seria essencial para trabalhar os símbolos no contexto da construção dos mitos no cinema, conforme o professor. “Você domina e aplica muito bem a teoria. O trabalho é coerente. Mas, como semiótico, acho que não dá conta”, disse Álvaro a Gustavo. “Fica a questão do significado querendo exorcizar o significante ou vice-versa. A semiologia não dá conta disso”, explicou o professor. O monografando argumentou: “Tive que optar por uma linha teórica para poder terminar o trabalho em tempo. Não poderia querer tudo”.
No trabalho, Gustavo buscou responder à pergunta: “Como o mito se relaciona com o cinema”. Então, ele dividiu a pesquisa, elegendo um objeto empírico, o filme “O exorcista”, e outro, que consiste na “construção de mitos no cinema”, para ser analisado. O monografando fez uma leitura dos mitos que encontrou na película. Em uma das cenas, o padre Merrin está no deserto, perante uma estátua do demônio Pazuzu — o que, de acordo com o estudo, evoca o mito bíblico escrito no livro de Mateus: capítulo quatro, versículos de oito a dez. Para Gustavo, o mítico supre a necessidade do homem cartesiano de explicar e dominar o mundo ao seu redor. Ele define o mito: “É uma ferramenta ideológica, que imprime todo um pensamento coletivo, no qual é sempre reinventado e recontextualizado”. Dessa maneira, o filme se torna também mito, pois sua temática, segundo o monografando, persiste nas dúvidas e incertezas do homem.
Lygia Zuculoto, professora do Bom Jesus/Ielusc, mostrou que o embate entre teóricos estava bem feito no desenvolvimento da monografia, mas, na parte analítica e conclusiva, o aluno não conseguiu colocar a teoria. Então, professora sugeriu que “na análise deveriam constar os contrapontos”. Gustavo se disse consciente do pouco uso dos teóricos e se justificou: “Pela questão da falta de tempo, eu estava muito focado”. Lygia elogiou as definições de cinema e mito que o monografando exprimiu na pesquisa.
Gustavo, com auxílio de Álvaro Dias e indicações bibliográficas da professora do Bom Jesus/Ielusc Maria Elisa Máximo, escreveu um artigo científico de título igual ao da monografia, durante os semestre finasi do curso. A publicidade não era o grande sonho do monografando. No final de 2009, ele pretende prestar vestibular Faculdade de Artes do Paraná (FAP). “Cinema sempre foi o meu grande objetivo”, afirmou acrescentando: “O que me fascina é exatamente um dos pontos em que toco na minha monografia: Criar e explorar uma série de realidades. Construir Simulacros”.