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Matéria 7928, publicada em 20/02/2009.


:Arquivo Histórico de Joinville

Participantes do corso na década de 20

Joinville, cidade do carnaval

Tuane Roldão


O dia já começava agitado: as pessoas saíam às ruas cantando e jogavam confetes e lança-perfume umas nas outras. Os carros e carroças recebiam os últimos enfeites para o corso, desfile em que era ostentado o poder e a riqueza dos alemães. Às 15 horas, o comércio fechava suas portas. Escravos e senhoril misturavam-se, compartilhando a mesma folia. Durante o entrudo, água era jogada nas pessoas que saíam de suas casas. Quem queria paquerar, atirava bolinhas de cera com talco ou perfume em seus alvos de conquista. Para encerrar a festa, um baile de máscaras era realizado. Assim era o carnaval de Joinville no ano de 1882, conforme relato feito pela professora e historiadora Valdete Niehues.

Com base em arquivos do 62° Batalhão de Infantaria (BI) e do Arquivo Histórico da cidade, datados de 1882 a 1930, Valdete realizou uma pesquisa acadêmica para averiguar a (in)existência de festejos carnavalescos na cidade. Segundo matéria publicada em 20 de fevereiro no Jornal A Notícia, “a festa chamada de Fastnacht foi realizada em 5 de março de 1865 e está registrada no Kolonie Zeitung, o primeiro jornal impresso na então Colônia Dona Francisca”. A professora garante que as comemorações tiveram início bem antes de 1882, mas sua pesquisa deteve-se aos jornais em língua portuguesa, que passaram circular nesse ano.

São Francisco do Sul e Rio de Janeiro exerceram forte influência no carnaval joinvilense. Fantasias e carros alegóricos eram inspirados nos festejos das grandes cidades. A comitiva de Zé Pereira, sujeito lendário de Portugal, vinha de barco de São Chico para desfilar nas ruas de Joinville. Além desse, outro bloco carnavalesco teve grande destaque na cidade: “As baianinhas, a canjica pegou fogo”, formado por praças e sargentos do então 13° Batalhão de Caçadores, a partir de 1922.

O primeiro baile de máscaras da cidade foi realizado na Liga das Sociedades, em 1882. Para participar, era necessário ser sócio de algum clube joinvilense, ou então pedir uma licença na polícia. “Esse era o controle da época, as tais medidas de segurança”, explicou Valdete. Os pares dançavam ao som da polca e da marchinha e as máscaras só eram retiradas ao final do baile. O samba só chegou mais tarde na cidade.

Em meados da década de 60, o governo passou a usar o carnaval como atrativo turístico e a disponibilizar verba para o evento. Foi em 1986 que Joinville perdeu seus festejos quando Wittich Freitag, então prefeito da cidade, cortou o investimento e, aos poucos, os blocos carnavalescos foram se extinguindo. Para Valdete, o problema se deu devido ao comodismo que o dinheiro liberado gerou. “Antes, as pessoas se organizavam e gastavam o que fosse necessário para a folia. Quando se tornaram dependentes do governo, não estavam mais articuladas e não se mobilizaram mais”. Ela acredita que o carnaval só voltará com força em Joinville caso seja implantada uma cultura carnavalesca o ano inteiro, com blocos e escolas de samba. “Precisamos antes fazer um resgate do espírito alegre de anos atrás”.

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