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Matéria 7917, publicada em 20/02/2009.


:Luis Fernando Assunção

Veterano da folia, Zacarias comemora a volta dos desfiles

"O carnaval é a minha paixão"

Luis Fernando Assunção


Poucos conhecem tanto o carnaval de Joinville como o radialista e jornalista Aires Zacarias, 57 anos. Há mais de 40 anos ele está às voltas com a festa na cidade e guarda na memória histórias sobre as idas e vindas da folia. Zacarias acompanhou de perto a ascensão do carnaval de rua, entre 1968 e 1992, o ostracismo da festa na década de 90 e a sua retomada, em 2006. “Amo o carnaval e por isso, ainda com 17 anos, comecei a me envolver. Infelizmente, em alguns períodos, nossa cidade deixou de valorizar essa cultura popular”, resume Zacarias, que não esconde a animação com a volta da festa neste ano, desta vez com o apoio do governo municipal.

A história de Zacarias com o carnaval local começou em 1968, quando o Kênia Clube montou uma pequena escola de samba para desfilar na rua do Príncipe. Com 40 integrantes, a performance da escola não apenas surpreendeu os moradores da cidade, mas também deu um impulso ao carnaval de rua em Joinville. “O Kênia era um referencial para a raça negra. E foi de lá que começou as primeiras tentativas de se organizar um carnaval de rua, com desfile, na cidade”, recorda Zacarias. Começaram a surgir novas escolas, como a Unidos do Boa Vista, a Acadêmicos da Serrinha (Iririú) e, a partir de 1981, a Fúria Tricolor – facção das torcidas organizadas do Joinville Esporte Clube da época.

A disputa era acirrada. Não havia premiação entre as escolas nem regulamento para a disputa. Mas, mesmo assim, ninguém queria ficar para trás nas alegorias e na performance na avenida. A partir de 1977, relembra Zacarias, foi criado o regulamento e a disputa foi oficializada. Isso foi feito depois de uma confusão entre os integrantes do Kênia e do Unidos do Boa Vista. “Foi um arranca-rabo daqueles. Daí, se decidiu pela regulamentação, com regras claras para a participação e disputa”, conta Zacarias. Nos anos seguintes a Unidos do Boa Vista, o Kênia – duas vezes – e a Fúria Tricolor foram sagradas campeãs. De 1982 até 1992, só deu Kênia. A escola chegou a sair, em 1990, com 900 integrantes no desfile, que ocorria na rua do Príncipe. Algo impensável para Joinville até então.

O semblante sereno de Zacarias só se desfaz quando o assunto é a interrupção do carnaval de rua da cidade, ocorrido em 1983. E ele sabe exatamente o que ocorreu para que os desfiles fossem deixados de lado. “A elite local achou por bem forjar a história de que Joinville, por ser de colonização alemã, não era afeita ao carnaval. E o turismo local, então, deveria ser direcionado para aqueles turistas que queriam descanso”, acredita Zacarias. Com o apoio dos seguidos governos municipais, Joinville passou a ser conhecida por cidade sem carnaval. “Eles venderam um turismo de que a cidade era para descanso nessa época”, diz.

Outra mágoa revelada por Zacarias foi a promessa do então prefeito de Joinville Luiz Henrique da Silveira de reativar o carnaval de rua quando assumiu, em 1997. Isso não só não aconteceu como o próprio prefeito passou a defender a ideia de que a cidade não precisava de carnaval. “Minha decepção maior foi quando Luiz Henrique disse, em entrevista, que o carnaval de Joinville ocorria em São Francisco do Sul. Aquilo doeu muito”, admite Zacarias. Tanto Luiz Henrique quanto seu sucessor, Marco Tebaldi, ignoraram os apelos dos carnavalescos por verba para reorganizar a festa. “Foi um tempo difícil, sem apoio. O carnaval de rua acabou morrendo e, com ele, a folia nos clubes. O jeito era se refugiar na praia”, explica.

Somente em 2006, por iniciativa do então presidente da Fundação Cultural e vice-prefeito Rodrigo Bornholdt, o carnaval voltou com força. E Zacarias estava lá, participando da organização da festa. “A gente apostava na ideia, mas não sabia se iria dar certo. E deu. Foram mais de 10 mil pessoas no retorno do carnaval”, conta ele. No ano passado, debaixo de chuva, perto de 40 mil pessoas foram para a frente do Mercado Público para brincar na folia. Mas ainda não era o retorno dos desfiles de ruas com as escolas organizadas, o que deve ocorrer somente no ano que vem, de acordo com as projeções de Zacarias, que é o presidente da comissão organizadora deste ano. A Liga das Entidades Carnavalescas também foi reativada e o atual prefeito, Carlito Merss, apoiou abertamente a retomada. “Agora, tem tudo para que o carnaval de antigamente volte. Vamos ver”, torce Zacarias.

Neste ano, desfilam oito blocos, sendo que três deles já anunciaram que virão como escolas de samba no ano que vem: o Acadêmicos da Serrinha, a Fusão do Samba (do bairro Ademar Garcia) e a União Tricolor (torcida organizada do JEC). O Kênia Clube deve retornar no ano que vem e a projeção é de montar uma escola com 500 participantes. “Minha alegria é total com a volta do carnaval. Eu me irrito quando falam que o joinvilense não gosta de carnaval. Isso não é verdade, basta ver o público que prestigia a festa”, sentencia Zacarias.

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